O chefe da milícia libanesa Hezbollah, Hassan Nasrallah, nesta quinta-feira, 19, culpou Israel pela série de explosões de pagers e walkie-talkies do grupo, que matou 37 pessoas nos dois últimos dias e deixou mais de 3.000 feridos, e afirmou que o ato foi uma “declaração de guerra”, prometendo retaliação.
Os ataques, que Nasrallah descreveu como um “massacre”, “cruzaram todas as linhas vermelhas e poderiam ser chamados de um ato de guerra ou uma declaração de guerra”, disse ele.
Nasrallah admitiu que as explosões foram um “golpe sem precedentes” para o grupo, cujos 4.000 dispositivos foram detonados entre terça e quarta-feira, e que os israelenses “são muito inteligentes” tecnologicamente – embora tenha alfinetado que “nunca conseguem alcançar seus objetivos”. Tel Aviv não se pronunciou sobre os casos, mas o ministro da Defesa, Yoav Gallant, falou em “uma nova fase da guerra” cujo foco é a fronteira norte do país com o Líbano, onde o Hezbollah atua.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse em pronunciamento que vai garantir que moradores do norte de Israel realocados por conta dos conflitos com o Hezbollah voltem para casa.
Nesta quinta, Israel começou a colocar em prática a diretriz. O Exército bombardeou diversas posições do grupo extremista na fronteira, que revidou, matando dois soldados israelenses. De olho nos movimentos, Nasrallah afirmou em pronunciamento estar pronto para uma ofensiva no sul do Líbano e disse que a operação seria uma “oportunidade histórica” para o Hezbollah.
“Estamos em nosso território”, afirmou. De fato, o grupo controla boa parte do sul libanês, onde tem mais poder que o governo do país.
Como ocorreu o ataque?
As explosões tiveram início na capital do Líbano, Beirute, e rapidamente se espalharam por diversas outras regiões do país.
Testemunhas relataram ter visto fumaça saindo dos bolsos das pessoas antes de ouvirem pequenas explosões que lembravam fogos de artifício e tiros. O caos se intensificou quando, após cerca de uma hora de incidentes, dezenas de pessoas começaram a ser levadas a hospitais, sobrecarregando o sistema de saúde.
Um oficial americano, que preferiu não ser identificado, afirmou ao The New York Times que os pagers receberam mensagens que pareciam ter sido enviadas pela liderança do Hezbollah antes de detonarem. Em vez de instruções, essas mensagens parecem ter ativado os dispositivos.
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Analistas sugerem que a explicação mais plausível envolve um ataque à cadeia de suprimentos, resultando na adulteração dos pagers durante a fabricação ou transporte.
Uma fonte da segurança libanesa disse à agência de notícias Reuters que uma pequena quantidade de explosivos foi plantada dentro de um novo lote de 5.000 pagers encomendados pelo Hezbollah para seus membros. Relatos indicam que até 3 gramas de explosivos estavam escondidos em cada pager, resultando em 3.000 explosões após o recebimento de mensagens que pareciam vir da liderança do Hezbollah.
“O Mossad injetou uma placa dentro do dispositivo que contém material explosivo acionado por um código. É extremamente difícil de detectar, mesmo com equipamentos ou scanners”, afirmou a fonte, citando a agência de inteligência e espionagem israelense.
O Mossad não comentou o ataque.
A origem dos pagers
A análise de fragmentos dos pagers sugere que eles foram fabricados pela empresa taiwanesa Gold Apollo, mas o CEO da empresa nega.
O fundador, Hsu Ching-Kuang, disse que sua companhia havia assinado um acordo com uma empresa sediada na Hungria, chamada BAC, para fabricar os dispositivos e usar o nome de sua empresa. Ele acrescentou que as transferências de dinheiro tinham sido “muito estranhas”, sem dar mais detalhes.
Registros da empresa BAC revelam que ela foi constituída pela primeira vez em 2022. O endereço registrado revela um prédio indefinido em um subúrbio de Budapeste. A CEO Cristiana Bársony-Arcidiacono disse à rede americana NBC que não sabia nada sobre as explosões. “Eu não faço os pagers. Sou apenas a intermediária. Acho que você entendeu errado”, disse ela.
Não há evidências de que a Gold Apollo tenha sido informada sobre a adulteração de seus dispositivos.
Por que o Hezbollah usa pagers?
O Hezbollah opta por pagers devido à menor suscetibilidade ao rastreamento em comparação aos celulares. Muitos membros do grupo, não apenas líderes, utilizavam esses dispositivos para evitar a vigilância israelense.
Os celulares são altamente rastreáveis, pois emitem sinais para se conectar às redes de telefonia, permitindo que sua localização seja determinada. O Hezbollah está ciente desses riscos e alertou seus membros sobre os perigos do uso desses dispositivos. Já os pagers funcionam apenas como receptores, sem emitir sinais rastreáveis. No entanto, o grupo não previu que esses dispositivos poderiam ser utilizados contra eles.
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A recente falha de segurança que transformou os pagers em armas explosivas é considerada um dos maiores desastres de contrainteligência enfrentados pelo Hezbollah nas últimas décadas.
Os pagers, dispositivos sem fio que recebem e, em alguns casos, enviam mensagens, mas não realizam chamadas, foram populares nas décadas de 1980 e 1990, mas seu uso diminuiu rapidamente com a ascensão dos celulares nos anos 2000.