A Aliança Democrática (AD), de centro-direita, venceu as eleições em Portugal no domingo 10, conquistando a maioria no Parlamento, mas sem obter o número necessário de assentos para governar sem coalizões. O partido pode se ver obrigado a negociar com o Chega, partido de extrema direita que quase quadruplicou seus parlamentares para 48 (de um total de 230 na assembleia).
O resultado sublinha um giro à extrema direita, tendência em toda a Europa que promete se consolidar com as eleições para o parlamento da União Europeia em junho. Portugal, que regressou à democracia há 50 anos após a queda da ditadura fascista de António de Oliveira Salazar, foi por muito tempo considerado imune à ascensão do populismo de direita em todo o continente. Mas o pleito de domingo mostrou o contrário.
Xadrez político
O líder da recém-criada AD, Luís Montenegro, membro do Partido Social Democrata (PSD), comemorou a vitória na madrugada desta segunda-feira diante de uma multidão de apoiadores extasiados. O partido conquistou 79 dos 230 assentos no parlamento.
“A AD venceu as eleições”, bradou Montenegro, acrescentando que era crucial que os partidos no novo parlamento agissem de forma responsável e “cumprissem o desejo do povo português”.
Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e maior rival de Montenegro, admitiu a derrota. Sua legenda, que estava no poder desde 2015, ficou em segundo lugar por uma margem mínima, colhendo 77 assentos. O PS ficou atrás da AD na maioria das pesquisas de opinião, desde que o primeiro-ministro socialista, Antonio Costa, renunciou em novembro, em meio a uma investigação de corrupção. Santos descartou apoiar a AD, cuja agenda inclui cortes fiscais generalizados, e prometeu assumir papel da oposição, que “não pode ficar nas mãos do Chega”.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda precisa convidar formalmente o líder da AD para formar o governo. Após a vitória, Montenegro reiterou a promessa de não buscar apoio da extrema direita para governar e manifestou esperança de que o PS e o Chega “não formem uma aliança negativa para impedir o governo que os portugueses escolheram”.
Na contagem, ainda há quatro assentos livres no parlamento, que não foram computados porque dependem da contagem final dos votos vindos de portugueses morando no exterior.
O PS e o PSD, que dirige a AD, se alternaram no poder desde a queda da ditadura, em 1974.
Extrema direita
A campanha de André Ventura, líder do Chega, foi baseada numa narrativa anti-establishment. Ele prometeu acabar com a corrupção e conter o que considera uma imigração “excessiva”.
“(A eleição) mostrou claramente que os portugueses querem um governo da AD com o Chega”, disse Ventura, após os resultados. Ele já havia afirmado anteriormente que Montenegro seria responsável por qualquer instabilidade política se continuasse se recusando a negociar com seu partido.
Insatisfação
As questões que dominaram o período eleitoral no país incluem uma crise habitacional paralisante, salários baixos, problemas no sistema de saúde e corrupção, vista por muitos eleitores como endêmica dentro dos principais partidos.
Ainda assim, sob a liderança do PS, o PIB de Portugal cresceu a taxas anuais sólidas, acima de 2%, e registrou excedentes orçamentais. O dinheiro foi usado para reduzir a dívida pública do país, abaixo de 100% do PIB pela primeira vez em anos, o que rendeu elogios de Bruxelas e de investidores.