Casa Branca tenta conter crise e ameniza fala de Biden sobre libertar Irã
Comentário causou indignação em Teerã e foi além das declarações anteriores cuidadosamente pensadas para não sugerir qualquer tipo de envolvimento

O porta-voz do governo dos Estados Unidos esclareceu nesta sexta-feira, 4, que o presidente americano, Joe Biden, estava “expressando sua solidariedade” ao povo iraniano quando disse que iria “libertar” o Irã durante evento de campanha na última quinta-feira, 3.
“Não se preocupe, vamos libertar o Irã. Eles vão se libertar muito em breve”, disse Biden durante um amplo discurso de campanha na Califórnia, enquanto dezenas de manifestantes se reuniram do lado de fora segurando faixas de apoio aos manifestantes iranianos.
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O comentário causou indignação no governo de Teerã e foi além das declarações anteriores feitas pelo presidente, que foram cuidadosamente pensadas para não sugerir qualquer tipo de envolvimento direto da Casa Branca com a situação do país.
Menos de 24 horas após a fala de Biden, o governo americano disse que ele estava apenas expressando apoio aos protestos e que não havia nenhuma sinalização sobre uma nova abordagem.
“Ele estava expressando, novamente, nossa solidariedade com eles. O presidente foi bem claro sobre isso. Vamos continuar procurando maneiras de responsabilizar o regime pela maneira como estão tratando seu próprio povo”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, que reiterou que o Irã está “enfrentando problemas de sua própria autoria”.
Em discurso televisionado à mídia estatal, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, condenou o líder americano por expressar seu apoio aos manifestantes e reforçou as constantes acusações de que os países ocidentais estão por trás dos protestos que tomaram conta do país desde setembro.
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“Algumas horas atrás, fui informado de que o presidente dos Estados Unidos distraidamente disse que irá libertar o Irã em breve. Fomos libertados há 43 anos e o Irã nunca será sua vaca leiteira. Eles tem como objetivo destruir nossa unidade e coerência nacional. Os americanos gostam de repetir a experiência da Líbia, Síria e alguns outros países, em nosso país”, disse ele.
A Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos do Irã (HRANA) relata que 284 pessoas, incluindo 45 crianças, foram mortas pelo governo iraniano na repressão aos protestos, que eclodiram após a morte sob custódia policial de uma mulher acusada de usar seu hijab “inapropriadamente”.
Mahsa Amini, de 22 anos, entrou em coma em 16 de setembro em 16 de setembro após ser presa pela polícia moral em Teerã por supostamente violar as regras rígidas do Irã que exigem que as mulheres cubram os cabelos com um hijab.
Segundo relatos, os policiais bateram em sua cabeça com um cassetete e a jogaram contra a lateral de um veículo. A polícia negou as acusações e disse que ela sofreu um ataque cardíaco. Os primeiros protestos começaram após o funeral de Amini, quando as mulheres arrancaram seus véus em solidariedade.
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Desde então, eles evoluíram para um dos desafios mais sérios ao governo iraniano desde a Revolução Islâmica de 1979.
Ao menos 35 agentes de segurança também foram mortos desde o início das manifestações, segundo o governo.
As autoridades nacionais se referem aos protestos como “motins” causados por influência internacional e anunciou repressão severa para aqueles que se envolverem nos atos. Nesta segunda, o chefe do judiciário do Irã disse que os juízes lidarão com os casos de maneira rápida e eficaz.
Segundo a agência de notícias estatal Irna, o Tribunal Revolucionário de Teerã começou a julgar cinco pessoas no último sábado, 29, que terminou com cinco pessoas sentenciadas à pena de morte.
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Entre elas está um homem acusado de “corrupção na Terra” por supostamente bater e matar um policial com seu carro, disse o jornal. Outro homem que supostamente atacou a polícia com uma faca e incendiou um prédio do governo enfrentou a acusação de “inimizade contra Deus”.
Apesar do ultimato proferido pelo major-general do Corpo de Guardas da Revolução Iraniana para que as pessoas não fossem mais às ruas para protestar, os atos não tiveram fim.