Iniciada por Washington, a guerra de retaliações entre Estados Unidos e China teve um novo episódio nesta terça-feira com a ameaça da Casa Branca de imposição de tarifas de importação sobre produtos chineses cujos embarques ao mercado americano hoje somam 450 bilhões de dólares. O total exportado pela China em 2017 foi de 505 bilhões de dólares.
“O presidente Trump deu à China toda a oportunidade para mudar seu comportamento agressivo”, afirmou o conselheiro da Casa Branca para o Comércio, Peter Navarro, segundo o jornal americano The New York Times. “A China tem muito mais a perder do que nós”, completou.
Navarro insistiu na tese de Trump de que as mudanças nas políticas comerciais chinesas poderiam salvaguardar milhões de empregos nos Estados Unidos. Argumentou ainda que, como os embarques da China para os Estados Unidos são quatro vezes maiores do que a outra mão do comércio, Pequim teria muito mais a perder em um confronto com Washington.
De fato, não há no mundo maior corrente comercial do que entre os Estados Unidos e a China, de 635 bilhões de dólares no ano passado. Em 2017, os Estados Unidos embarcaram para aquele mercado 130 bilhões de dólares em produtos e importaram da China o equivalente a 505 bilhões de dólares. O saldo ficou negativo em 375,6 bilhões de dólares para os americanos. Somente de janeiro a abril deste ano, o déficit alcança 119 bilhões de dólares.
Empresas com negócios nos dois países, porém, estão particularmente alarmadas pela escalada da guerra comercial entre os dois gigantes do comércio internacional. Trump tem mantido seu discurso duro não apenas contra a China, como também contra os demais parceiros comerciais com os quais seu país tem expressivo déficit comercial.
Além das restrições à importação de aço e alumínio procedentes de vários países, a Casa Branca tem pressionado aliados históricos como a União Europeia, o Canadá o México a restringirem na origem suas exportações ao mercado americano – uma medida contrária às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No caso da China, a guerra está a ponto de eclodir com uma força jamais vista.
Até a segunda-feira, a Casa Branca ameaçava impor tarifa de importação de 10% sobre um volume de 200 bilhões de dólares em produtos chineses, caso Pequim resistisse a fazer concessões comerciais aos Estados Unidos. Washington também quer forçar o país a moderar seus embarques na origem.
Como resposta, o ministro de Comércio da China, Zhong Shan, acusou os Estados Unidos de “fazer chantagem” e reagiu com a possibilidade de adoção de “restrições quantitativas e qualitativas” aos produtos americanos destinados ao mercado chinês. Medidas qualitativas, em geral, são as atualmente de maior eficácia para a proteção de mercados e as mais difíceis de serem removidas.
Em uma etapa anterior, em maio, Trump decidira impor 25% de tarifa de importação sobre 50 bilhões de dólares em produtos chineses. Em resposta, a China adotara 25% de tarifa sobre as compras de 34 bilhões de dólares em produtos americanos.
Baseada em ameaças recíprocas, as conversas entre Washington e Pequim não tem progredido. Ao contrário, alimentam tensões diplomáticas e alarmam investidores. Segundo as autoridades americanas, não há novas rodadas de conversas marcadas entre os dois lados. A União Europeia, Canadá e México estudam a apresentação de queixas formais à OMC contra os Estados Unidos, um caminho que tende a demorar para alcançar uma solução.