A escolha do próximo presidente dos Estados Unidos, em 5 de novembro, não é apenas uma questão regional — ainda que boa parte dos temas de campanha esteja atrelada ao que ocorre dentro das fronteiras americanas, em especial as ondas de imigração e o direito ao aborto. É uma eleição de interesse global, de repercussões geopolíticas imensas e perenes. Saber quem sucederá a Joe Biden — Donald Trump, reeleito para um segundo mandato na Casa Branca, ou Kamala Harris, a atual vice — é tema inescapável, e a partir do vencedor do duelo nas urnas entre republicanos e democratas teremos alguma ideia do futuro do mundo e, claro, também do Brasil.
Não há dúvida: o governo do presidente Lula tem mais proximidade com Harris, assim como Jair Bolsonaro tem ligações umbilicais com Trump. Dificilmente, porém, haverá danos severos nas relações diplomáticas e sobretudo comerciais, não importa quem venha a tomar posse em janeiro de 2025. E convém lembrar que, também em Brasília, haverá troca da guarda em 2027. Contudo, o desenho da rica nação ao norte, por razões óbvias, tem impactos nos cenários político e econômico do nosso país. Dele depende parte da travessia brasileira, em um balé compulsório, e não há como evitá-lo.
Minuciosa reportagem da edição ilumina os dois mundos em embate — um, evidentemente mais conservador, o de Trump; o outro, um tanto mais progressista, o de Harris. Já não se trata, como no famoso aforismo cunhado em 1992 por um dos principais assessores de Bill Clinton, James Carville — “É a economia, estúpido” —, de definir os caminhos a partir do bolso dos cidadãos. Sim, é ponto ainda relevante, o dinheiro transforma vidas, mas tal questão vem sendo cada vez mais levada para o acostamento, ante a polarização que fez da política uma batalha campal entre fanáticos torcedores de futebol.
Não deveria ser assim, mas infelizmente é. A campanha mercurial — com um atentado no meio do caminho, com a desistência do atual presidente logo depois do debate inaugural — jogou ainda mais gasolina nessa fogueira. Os próximos dias (e talvez os próximos anos) tendem ao acirramento ideológico. Uma nação dividida, duas maneiras de ver o mundo e de se portar diante dele. Difícil, a esta altura do campeonato, apostar na vitória de qualquer um dos nomes, com os principais institutos de pesquisas indicando um empate. Não se descarta, inclusive, a demora na apuração e na divulgação do ganhador.
Para acompanhar esse momento histórico, VEJA (como sempre fez ao longo de suas quase seis décadas de existência) preparou uma cobertura especial, aqui na edição impressa, mas também em todos os nossos canais digitais. O editor Ricardo Ferraz, enviado especial aos Estados Unidos, produzirá diariamente para o site e as redes sociais boletins detalhados em torno dos humores e do pleito. Na quarta-feira 6 e na quinta-feira 7, a editora Marcela Rahal comandará na plataforma VEJA+ um programa de análises com Ferraz e a colunista Vilma Gryzinski, em que eles comentarão as últimas notícias e os resultados. O mundo está em suspense — e nós vamos estar na primeira fila para compreender e explicar os desdobramentos da escolha americana.
Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2024, edição nº 2917