Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Carta ao Leitor: A paz quente

O jogo geopolítico está muito mais complicado do que em décadas passadas, embora aparentemente menos belicoso

Por Da Redação Atualizado em 22 set 2023, 10h10 - Publicado em 22 set 2023, 06h00

Era o precipício da humanidade. Às 19h de 22 de outubro de 1962, o presidente americano John Kennedy foi à televisão para anunciar que os soviéticos haviam instalado mísseis nucleares em Cuba. O impasse durou treze dias, ao fim dos quais as duas superpotências inimigas — os Estados Unidos e a União Soviética — conseguiram contornar os chamados às armas. Kennedy e o mandachuva vermelho, Nikita Kruschev, selaram a trégua passageira. O conflito nuclear fora freado no momento mais dramático da Guerra Fria. O fosso que brotara ao fim da II Guerra, com o mundo rachado ao meio, chegara ao dramático apogeu — e assim permaneceria ao longo de três décadas.

A cortina de ferro só seria levantada em 1989, com a queda do Muro de Berlim e, depois, em 1991, com a derrocada da União Soviética. A Guerra Fria — tema de sucessivas reportagens de capa de VEJA — parecia ter cessado. Era “o fim da história”, na definição do cientista político americano Francis Fukuyama. Mas não. Veio o choque de civilizações entre o Ocidente e o Oriente, embebido de estúpido fundamentalismo, cujo ápice foram os infames atentados de 11 de setembro, e o renascer da Guerra Fria, agora no modelo 2.0, uma versão de embalagem geopolítica mais complexa, em razão dos movimentos menos previsíveis que se dão sobre o tabuleiro global. Já não se trata de embate sobejamente ideológico, com o planeta rachado ao meio, a um só tempo simples e agressivo. Agora, o confronto tem fundo especialmente econômico, apesar das diferenças políticas — e no quebra-cabeça de infinitas peças as bordas são imprecisas. Os Estados Unidos conversam com a China comunista porque se trata de fazer andar as trocas comerciais. A Rússia de Putin, agressora da Ucrânia, é aceita em tapetes vermelhos porque tem gás e grãos, além de influência.

Parece não haver dúvida: o jogo está muito mais complicado do que em décadas passadas, embora aparentemente menos belicoso. É a paz quente. Países como o Brasil, afeitos a conversar com todos os lados — Lula deixou Cuba e embarcou para Nova York, não briga com Putin e sentou-se com Zelensky —, teriam uma excelente janela de oportunidade, não fosse a postura indecisa, muitas vezes de visão estreita, sem saber para onde ir e a quem dar as mãos de modo sincero. Reportagem da edição mergulha com minúcia na diplomacia multipolarizada de nosso tempo. VEJA espera cumprir, com clareza e didatismo, uma de suas missões centrais: a de iluminar os corredores obscuros da civilização, que às vezes parecem estar à beira de uma falésia, como no tempo de Kennedy e Kruschev. Mas há sempre uma saída de modo a evitar o caminho intuído pelo general prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831): “A guerra é a continuação da política por outros meios”. Não pode — e não precisa — ser assim.

Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2023, edição nº 2860

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.