Dois cardeais da Igreja Católica pediram o fim da “praga da agenda homossexual” que, segundo eles, é a raiz dos casos de abuso sexual envolvendo sacerdotes. Raymond Burke, dos Estados Unidos, e Walter Brandmüller, da Alemanha, pertencem à ala conservadora da Igreja e são críticos declarados do papa Francisco.
Os dois rejeitam a ideia de que os casos de assédio são resultado do “clericalismo”, em que os religiosos se beneficiariam de uma posição de poder para cometer seus crimes e se protegem uns aos outros.
“A praga da agenda homossexual se espalhou pela Igreja, promovida por redes organizadas e protegida por um clima de cumplicidade e uma conspiração silenciosa”, afirmaram cardeais Burke e Brandmuller.
A posição dos cardeais foi defendida em carta aberta divulgada nesta quarta-feira, 20, véspera de reunião extraordinária, no Vaticano, do papa Francisco e 115 bispos para discutir a avalanche de denúncias de abuso por sacerdotes. Francisco fará um pronunciamento ao final do encontro de quatro dias e devem ser adotadas medidas para superar a maior crise do Catolicismo desde a Reforma Protestante, no século XVI.
No domingo 17, segundo o jornal The Guardian, o papa pediu orações dos católicos para a reunião e definiu o abuso sexual como “um desafio urgente do nosso tempo”.
Em entrevista concedida ao jornal Catholic Herald, o cardeal Brandmüller já havia culpado a homossexualidade pelos casos de abuso dentro da Igreja. Burke é presidente de conselho do Dignitatis Humanae Institute, uma entidade religiosa de direita sediada em um monastério nos arredores de Roma e que fomenta os pensamentos conservadores da Igreja.
Bradmüller é muito próximo de Steve Bannon, ex-assessor do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e um dos maiores articuladores e incentivadores das atividades do instituto.
As maiores críticas da dupla de cardeais ao papa não estão relacionadas aos abusos. Elas dizem respeito ao posicionamento moderado de Francisco para divorciados e pessoas no segundo casamento receberem a primeira comunhão, o que atualmente é proibido. Em 2015, o pontífice pediu que a Igreja tivesse um olhar mais generoso com esses fiéis.
“É preciso uma recepção calorosa e fraterna, no amor e na verdade, para essas pessoas que, na verdade, não estão excomungadas, como alguns pensam: sempre serão parte da Igreja”, declarou o pontífice.
Quatro cardeais, incluindo Burke e Brandmüller, passaram a questionar a liderança de Francisco por esta declaração. Os conservadores se dizem defensores dos valores e ensinamentos da religião e o acusam de corromper a fé católica.