O Parlamento catalão iniciou neste sábado (12) o debate para empossar como presidente o editor separatista Quim Torra, que se mostrou fiel a seu antecessor exilado Carles Puigdemont e prometeu trabalhar “sem descanso” para construir uma república independente da Espanha.
O duro discurso provocou a reação imediata do governo espanhol de Mariano Rajoy, que controla diretamente a região desde a frustrada declaração de independência de 27 de outubro e desde o afastamento do ex-presidente Puigdemont e de seu gabinete.
Em um contundente e incomum comunicado, acusou-o de articular um “discurso frentista”, “sectário e divisor, renunciando a governar para o conjunto dos catalães e estimulando as tensões”. Também advertiu-o de que responderá diante de “qualquer violação da lei”.
Esse editor e advogado de 55 anos foi designado por Puigdemont para assumir “provisoriamente” a presidência, depois que a Justiça e o governo espanhol impediram sua reeleição durante meses por estar morando no exterior e em função de um processo de extradição que pesa contra ele.
“Quero deixar claro que nosso presidente é Carles Puigdemont”, pontuou, antes de iniciar seu discurso na Câmara, deixando em aberto um retorno do ex-líder, se sua situação legal permitir.
‘Construir um Estado independente’
Enquanto isso não se define, prometeu cumprir a tarefa recebida: retomar o processo lançado com o referendo ilegal de 1º de outubro e a proclamação de uma república, abortado pela intervenção de Rajoy que afastou Puigdemont e dissolveu o Parlamento.
Esses antecedentes não amedrontam Torra, que garantiu ser leal ao mandato de “construir um Estado independente”. Quando o governo for formado e for suspenso o controle de Madri sobre a região, “não teremos mais qualquer desculpa para não trabalhar sem descanso para a República”, garantiu.
Como anunciou em seu discurso, seu governo vai recuperar algumas leis catalãs suspensas pela Justiça espanhola, restabelecerá a rede de “embaixadas” para promover a causa separatista, as quais haviam sido fechadas por Madri, e iniciará os trâmites para redigir a futura Constituição catalã.
Ele também convidou o governo espanhol e a União Europeia ao diálogo, pedindo a esta última que seja mediadora nesse conflito. “Nós estamos dispostos a dialogar amanhã mesmo”, disse ele, em espanhol, dirigindo-se a Rajoy.
Suas palavras também acirraram os ânimos na Câmara catalã, reflexo de uma sociedade dividida, quase em partes iguais, entre partidários e críticos da independência. “É uma oportunidade perdida para iniciar a reconciliação” entre catalães, criticou Inés Arrimadas, líder do partido de centro-direita Cidadãos, o mais votado nas eleições regionais.
“Você representa o nacionalismo identitário excludente”, acrescentou ela, lembrando de uma série de antigos tuítes do candidato, com comentários muito ofensivos contra os espanhóis.
Resultado incerto
Embora os separatistas controlem a Câmara regional, a posse de Torra não está garantida. E dificilmente ele será empossado ainda neste sábado, já que precisa ganhar por uma maioria absoluta, da qual não dispõe. Ele terá uma segunda chance na segunda-feira, quando será suficiente uma maioria simples ainda incerta.
Com 66 votos dos dois grandes partidos separatistas e 65 contrários da oposição, ele depende dos quatro deputados do partido separatista mais radical, o anticapitalista CUP, que quer um programa de ruptura rumo à secessão. Caso se abstenham, Torra será presidente. Se votarem contra, fracassará, e os separatistas terão de buscar uma solução antes de 22 de maio. Se não houver um novo governo até essa data, novas eleições serão necessárias.
A radicalidade de Torra e de Puigdemont, do grupo parlamentar Juntos pela Catalunha, contrasta com a crescente moderação dos dois grandes partidos separatistas, o esquerdista ERC e o conservador PDECAT, partidários de baixar a tensão e evitar mais problemas com a Justiça.