Boric rebate Lula e diz que guerra na Ucrânia é uma ‘agressão inaceitável’
Declaração ocorre após petista chamar líder chileno de “sequioso e apressado” por criticar a postura de países latinos que não condenaram a invasão russa
O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse nesta quinta-feira, 19, que, apesar de ter “respeito infinito” e “muito carinho” pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), era preciso ser “claro” sobre a guerra na Ucrânia representar uma “agressão inaceitável”. A declaração ocorre após o petista ter chamado Boric de jovem “sequioso e apressado” por criticar a postura de nações da América Latina que não condenaram a Rússia pela invasão durante a finalização da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) com a União Europeia (UE).
“Eu tenho um respeito infinito e muito carinho por Lula. Mas se me perguntam: ‘você quer que a guerra acabe?’. Sim, eu quero que acabe a guerra, e creio que temos que ser muito claros em dizer que estamos em uma guerra de agressão inaceitável”, respondeu aos jornalistas.
Ainda nesta quarta-feira, Lula foi questionado sobre o posicionamento inflexível de Boric, que procura responsabilizar os russos pelo conflito em curso na Ucrânia, iniciado em fevereiro do ano passado. Em meio à declarações polêmicas sobre a guerra, o presidente brasileiro argumenta que adotar a neutralidade possibilita que o Brasil esteja em posição para negociar a paz entre as nações.
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“Eu não tenho porque concordar com o Boric, é uma opinião dele. Foi extraordinária a reunião”, afirmou. “Provavelmente a falta de costume de participar dessas reuniões faz com que um jovem seja mais sequioso, mais apressado, mas as coisas acontecem assim”.
Em visita à sede da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, o líder chileno foi questionado sobre sua reação às falas de Lula. Ele disse que não se sentiu ofendido por sua suposta falta de experiência ter sido alvo de comentários. Boric ressaltou que os dois governos são da “mesma família política”, mas que o Chile ocupa “uma posição de princípios”, tendo como foco o direito internacional.
“O importante é que sejamos capazes de defender o direito internacional a qualquer custo, porque quando um país agride outro, não podemos esquecer que no dia de amanhã podemos ser nós. Nenhuma potência pode passar por cima do direito internacional, violando seu direito territorial”, acrescentou.
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Não é a primeira vez, no entanto, que os presidentes entram em conflito. Em maio, após o encontro da cúpula de líderes sul-americanos no Itamaraty, Boric criticou a postura de Lula frente o governo ditatorial de Nicolás Maduro. Após uma reunião bilateral com o presidente venezuelano, o petista afirmou que a visão negativa sobre o país era fruto de uma “narrativa construída”.
“Nos alegra que a Venezuela retorne às instâncias multilaterais. Mas isso não significa fazer vista grossa. Há uma discrepância entre a realidade e as declarações do presidente Lula”, apontou o chileno na ocasião.
Ele argumentou, inclusive, que a agressão aos direitos humanos na Venezuela é “grave” e “não é uma construção de narrativa”. Boric destacou que testemunhou os efeitos da violência “nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos” que chegaram o Chile e que, portanto, era necessário assumir um posicionamento “quanto ao fato de que os direitos humanos devem ser sempre respeitados”.