Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de várias cidades da Bolívia na noite desta segunda-feira 15 para protestar contra a prisão da ex-presidente Jeanine Áñez por suspeita de golpe de Estado contra Evo Morales em 2019. Organizações internacionais e potencias mundiais expressaram preocupação com o clima de tensão política no país.
Na cidade de Santa Cruz de la Sierra, palco de um dos maiores protestos, os manifestantes exigiam que o presidente Luis Arce parasse com a “perseguição” e libertasse os “presos políticos”. Cerca de 40.000 pessoas se reuniram na praça Cristo Redentor, segundo estimativas de autoridades locais.
“Não foi golpe. Foi fraude”, diziam cartazes exibidos na cidade de La Paz. Cochabamba (centro), Sucre (sudeste), Trinidad (noroeste) também foram palco de atos.
Jeanine Áñez foi presa no sábado 13, acusada de ter conspirado pela renúncia do ex-presidente Evo Morales em 2019. No domingo ela foi condenada a quatro meses de prisão preventiva. Outros cinco ex-ministros de Áñez também foram detidos, e o governo do Peru informou que a ex-ministra Roxana Lizárraga solicitou asilo.
Advogada e ex-apresentadora de televisão, Áñez deixou o governo em novembro, após a vitória de Luis Arce, ex-ministro da Economia de Evo, nas eleições presidenciais.
Clima de tensão
Os Estados Unidos, a Comissão Europeia, a ONU e a Organização dos Estados Americanos (OEA) expressaram preocupação pelos acontecimentos na Bolívia desde a prisão de Áñez. “Os Estados Unidos estão acompanhando com preocupação os desdobramentos relacionados à recente prisão de ex-funcionários pelo governo boliviano”, disse Jalina Porter, porta-voz adjunta do Departamento de Estado.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou que “o sistema judicial boliviano não está em condições de oferecer as garantias mínimas de um julgamento justo” e pediu a liberação do detidos.
Pelo Twitter, o ex-presidente Evo Morales respondeu a Almagro afirmando que “ele também deve ser julgado por promover o golpe e por crimes contra a humanidade”.
Um relatório da OEA que apontou irregularidades nas eleições de 2019 foi usado pela oposição para pressionar Morales após a sua reeleição, e o então presidente acabou renunciando e fugindo para o México e, depois Argentina. Posteriormente, um estudo independente que analisou o relatório da OEA apontou que houve falhas em sua realização.