Bocejos e incômodo: Trump no banco dos réus
Trata-se do menos grave entre os quatro processos que enfrenta, mas pode ser o único a ter um desfecho antes da eleição de novembro
Instado a comparecer ao acanhado tribunal de Manhattan na segunda-feira 15, início do processo criminal que o acusa de, na campanha de 2016, ter burlado a lei para comprar o silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, com quem teria passado uma noite, Donald Trump mostrou-se cansado e incomodado na cadeira desconfortável, onde bocejou várias vezes. Os pagamentos em si não são ilegais, mas, segundo a acusação, o ex-presidente cometeu 34 crimes de falsificação de registros de despesas para escondê-los. Trata-se do menos grave entre os quatro processos que Trump enfrenta, mas pode ser o único a ter um desfecho antes da eleição de novembro, na qual é candidato à Presidência. A primeira semana foi dedicada à escolha do júri, e prevê-se que os trabalhos se estendam até junho. À tarde, mais animado, o ex-presidente, primeiro ocupante da Casa Branca a ser julgado criminalmente, martelou nos corredores a tese habitual de que é vítima de uma caça às bruxas com motivação política, sempre bem recebida no bonde trumpista e, neste caso, até fora dele — só um terço dos americanos vê ilegalidade nos pagamentos. Segundo pessoas próximas, a mais nervosa com o que pode ser dito no tribunal — por motivos óbvios — é a ex-primeira-dama Melania, que estava grávida na época da suposta noitada. Além de inédita, a ação em curso pode vir a testar os limites do decoro presidencial: um veredicto de culpado e mesmo uma pena de prisão não são impedimento para que Trump tome posse, caso vença Joe Biden na eleição.
Publicado em VEJA de 19 de abril de 2024, edição nº 2889