‘Auf wiedersehen’
Após duras derrotas eleitorais de seu partido, Angela Merkel anuncia que não vai mais concorrer a cargos políticos
Depois de treze anos como chanceler e quase duas décadas como líder do partido União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão), Angela Merkel anunciou, na segunda 29, que deixará a presidência da sigla em dezembro próximo e não buscará mais um mandato de primeira-ministra nas eleições que devem acontecer até 2021. O anúncio veio um dia depois de a CDU colher seu pior resultado nas eleições regionais de Hesse, um dos estados economicamente mais fortes da Alemanha, ao receber apenas 27% dos votos. Duas semanas antes, a União Social Cristã (CSU), partido aliado, sofreu uma queda eleitoral de grandes proporções no Estado da Bavária, alcançando só 37% dos votos.
Com os eleitores tirando apoio, não havia muito como seguir adiante. Nos últimos anos, à medida que outros partidos ganhavam força, os percalços para montar uma coalizão se avolumavam. Depois das eleições de 2017, Merkel levou cinco meses para costurar um governo com a CSU e o SPD, partido social-democrata. Além disso, algumas de suas políticas liberais, como o abandono da energia nuclear e a generosa acolhida de mais de 1 milhão de estrangeiros no auge da crise dos refugiados em 2015, desagradaram às alas conservadoras de seu partido. “Uma crescente insatisfação da CDU com seu estilo de governar e com suas posições mais à esquerda contribuiu para a fragilidade de Merkel”, diz o historiador alemão Andreas Rödder.
Seu futuro é nebuloso. Merkel cogitou seguir no cargo de chanceler até 2021, mesmo deixando a liderança de seu partido. A última ocasião em que isso aconteceu foi com o ex-chanceler Gerhard Schroeder. Em 2004, ele abdicou do comando do SPD, mas no ano seguinte o Parlamento votou uma moção de censura contra ele. Schroeder teve de antecipar as eleições para a escolha do novo chanceler. “Merkel está numa frágil posição política. É o começo do fim de sua chancelaria”, afirma o cientista político Dan Hough, da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Pela autoridade moral, garantia de estabilidade e posições generosas, é pena que Merkel esteja preparando seu Auf Wiedersehen. Fará falta.
Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2018, edição nº 2607