Armas enviadas à Ucrânia irão parar nas mãos de criminosos, diz Interpol
Segundo Jürgen Stock, chefe da organização, cenário será similar ao visto em outros conflitos, como no Afeganistão
O chefe da Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, Jürgen Stock, disse nesta quinta-feira, 2, que as armas enviadas para a Ucrânia desde o início da guerra com a Rússia acabarão no mercado clandestino e nas mãos de criminosos no futuro.
De acordo com ele, quando o conflito terminar, uma onda de armamento pesado inundará o mercado internacional e é preciso que membros da Interpol, especialmente aqueles responsáveis pelo fornecimento, cooperem para o rastreamento.
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“Assim que forem silenciadas na Ucrânia, as armas ilegais virão. Sabemos disso de muitos outros conflitos. Enquanto estamos nos falando, os criminosos já estão se movimentando”, disse Stock à Associação de Imprensa Anglo-Americana, em Paris.
Segundo Stock, grupos criminosos tentam explorar “situações caóticas e a disponibilidade de armas”, incluindo aquelas usadas por militares em contextos de guerras.
“Nenhum país ou região pode lidar com isso isoladamente porque esses grupos operam em nível global”, completou, afirmando que essas armas podem ir também para outros continentes.
Desde o início do confronto, em 24 de fevereiro, aliados ocidentais da Ucrânia têm enviado uma série de armamento para as Forças Armadas do país de modo a conter a ofensiva da Rússia. Na última terça-feira, 31, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cedeu e anunciou o envio de um sistema de míssil de longo alcance ao Exército ucraniano.
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O crescimento do mercado clandestino de armas devido a um conflito geopolítico aconteceu recentemente no Afeganistão. Após 20 anos de ocupação de tropas, em sua maioria americanas, enormes quantidades de equipamentos militares altamente sofisticados foram deixados para trás e caíram nas mãos do Talibã, grupo fundamentalista que governa o país.
Além das armas, Stock afirmou que a guerra na Ucrânia levou a um aumento no roubo de fertilizantes em grande escala e de combustível, tornando esses itens mais valiosos.
Quando questionado sobre uma suposta violação de sanções e lavagem de dinheiro por oligarcas russos que enfrentam restrições internacionais, ele respondeu dizendo que a Interpol não está investigando nem esses nem supostos crimes de guerra, pois a constituição da organização proíbe o envolvimento em atividades políticas, devendo permanecer neutra.
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No entanto, Stock disse que há cooperação com a Ucrânia no reconhecimento de mortos no conflito depois de pedido de ajuda, e completou dizendo que outros pedidos serão analisados caso a caso levando em consideração a “estrita neutralidade” da Interpol.
“Nossos canais de comunicação permanecem abertos para troca de informações sobre crimes de guerra. Mas não estamos olhando para eles. A Interpol não tem poderes de investigação”, concluiu.