O ministro da Tecnologia de Taiwan, Wu Cheng-wen, disse nesta quinta-feira 23 que o país é capaz de desligar as linhas de produção de chips da ilha, conectadas via internet, à distância em caso de conflito com a China. A ameaça é significativa: dona da 16ª maior economia comercial, Taiwan é responsável pela fabricação de 60% dos semicondutores do mundo, e 90% dos modelos mais avançados, espinha dorsal do mundo conectado e presentes desde em celulares até armas modernas. Ou seja, uma pausa na fabricação é capaz de provocar choques nas cadeias de suprimento e uma grave crise global.
“De acordo com a tecnologia de fabricação de chips inteligente de hoje, isso pode ser feito”, afirmou o ministro. “Seja qual for a indústria e a maquinaria, se estiver ligada online, podemos usar essa tecnologia de manufatura inteligente para controlar remotamente a produção, incluindo parar seu funcionamento”, completou.
O ministro foi questionado por um legislador com base em uma reportagem do jornal americano Bloomberg, que revelava a capacidade taiwanesa de interromper o funcionamento de máquinas inteligentes conectadas à internet, como as produtoras de chip. O informe citava as fabricantes TSMC, de Taiwan, e ASML, da Holanda, como exemplos.
Segundo o vice-presidente sênior da TSMC, Kevin Zhang, a gigante de tecnologia produz 99% dos chips de aceleração usados em ferramentas de inteligência artificial ao redor do globo. Os dispositivos são, inclusive, utilizados pela empresa americana Nvidia, líder do setor de IA.
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Relação China-Taiwan
O alerta faz referência ao desejo da China de retomar o controle de Taiwan, sob o princípio de “Uma Só China” — Wu, por sua vez, integra o recém-empossado governo do presidente Lai Ching-te, que tem uma postura mais pró-independência, para desagrado de Pequim.
Após a cerimônia de posse de Lai, o Gabinete para Assuntos de Taiwan (TAO) do governo chinês, em comunicado, rotulou o novo líder taiwanês como “separatista perigoso” e ameaçou “contra-atacar e punir as autoridades do DPP (Partido Progressista Democrático de Taiwan, ao qual Lai é afiliado) por conspirarem com forças externas para perseguir provocações de ‘independência’.”
Não ficou no discurso. A China realizou nesta sexta-feira, 24, um teste de ataques com mísseis contra Taiwan, em seu segundo dia de exercícios militares ao redor da ilha. Segundo o exército chinês, os treinamentos testam suas capacidades para “tomar o poder” no território vizinho, que consideram parte de seu país, e punir “atos separatistas”.