A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita se beneficia de tráfico de menores para completar as suas fileiras na linha de frente na guerra civil do Iêmen, informa reportagem da rede de televisão Al Jazeera. Os menores são levados para campos de treinamento com promessas de remunerado, mas se vêm expostos aos combates.
O caso vem sendo acompanhado, com condenações, pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estima-se que 33% das crianças soldado do Iêmen lutem ao lado da coalizão liderada pela Arábia Saudita. Ambos os países são signatários de protocolos internacionais que visam coibir a atuação de crianças soldado em conflitos armados.
A guerra civil no Iêmen tem, como razões de fundo, o conflito entre muçulmanos sunitas e xiitas, além das questões políticas locais. Começou em 2014 quando os rebeldes xiitas houthis capturaram grandes faixas de terras no noroeste do país e, inclusive, Sanaa, capital do país. Os houthis recebem apoio do Irã. No ano seguinte, uma coalizão de países foi formada para apoiar o governo iemenita, também sunita. O conflito provocou a pior crise de ajuda humanitária da atualidade, segundo a ONU.
Segundo a Al Jazeera, os menores são levados até a cidade fronteiriça de al-Buqa, onde são treinados para defender as fronteiras sauditas. Essa cidade é palco de diversos confrontos entre a coalizão e os rebeldes houthis.
“Nós fomos porque nos disseram que trabalharíamos na cozinha e ganharíamos 3000 riais sauditas (cerca de 800 dólares). Então, acreditamos neles e entramos no ônibus”, contou Ahmad al-Naqib, de 16 anos, à Al Jazeera. Ahmad fugiu de um dos campos de treinamento e voltou para sua vila, mas no começo deste ano foi morto com um tiro na cabeça.
O aliciamento começa com as promessas de recursos. Mas os menor são expostos também a uma jornada em que traficantes e coiotes lhes dão documentos de identidade para atravessarem a fronteira com a Arábia Saudita. De lá, são enviados a campos de treinamento.
“Esses jovens ingênuos nunca deveriam ser seduzidos e recrutados para lutar na guerra. O governo deveria mandá-los de volta para casa e para as escolas. Mas em tempos como este, a consciência está morta. Eles são recebidos de braços abertos, ” disse All Hameed, pai de Mohammad Ali Hameed, de 15 anos, que foi em busca de trabalho, mas até hoje não voltou para casa.