O presidente de Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, dissolveu o parlamento nesta terça-feira, 6, abrindo caminho para a criação de um governo interino e, mais tarde, para novas eleições. Os atos ocorreram um dia depois da primeira-ministra do país, Sheikh Hasina, renunciar e fugir em meio a protestos contra o governo, liderados por estudantes, que sofreram repressão violenta da polícia.
Logo após o anúncio, membros do movimento invadiram a residência oficial de Hasina para comemorar. Ela voou para a Índia e está hospedada em uma casa segura fora de Nova Délhi.
O gabinete de Shahabuddin também anunciou que a líder do Partido Nacionalista de Bangladesh, Begum Khaleda Zia, uma ex-primeira-ministra que foi crítica de Hasina por décadas, foi libertada da prisão domiciliar.
Pressão nas ruas
Os manifestantes ameaçaram intensificar os protestos caso o parlamento não fosse dissolvido, para possibilitar novas eleições. A decisão foi tomada após reuniões entre os chefes das forças de defesa, líderes de partidos políticos, líderes estudantis e alguns representantes da sociedade civil, segundo a declaração presidencial. Anteriormente, Shahabuddin havia dito que haveria eleições logo após um governo interino ser indicado – e líderes estudantis participarão da discussão sobre essa formação, segundo o chefe do exército, general Waker-Uz-Zaman.
A série de manifestações contra o governo teve início quando um movimento estudantil começou a denunciar as chamadas cotas de admissão para cargos públicos – consideradas “arbitrárias” pelo grupo. As vagas costumam ser reservadas a famílias de veteranos da guerra de independência de Bangladesh, em 1971, o que tornou-se um meio de reservar posições para aliados do partido governistas.
Os protestos se transformaram em um levante mais amplo contra o governo, pedindo a renúncia de Hasina, e passaram a ser duramente reprimidos. Ao todo, foram cerca de 300 pessoas mortas desde o fim de junho.
A renúncia ocorreu após um dos dias mais sangrentos na história recente do país asiático. Confrontos entre manifestantes e a polícia levaram à morte de 94 pessoas só no domingo 4 – incluindo ao menos 13 policiais – o número mais alto em um único dia entre todos os protestos na história recente de Bangladesh. O recorde anterior havia sido de 67 mortes em 19 de julho, quando estudantes saíram às ruas contra as cotas.
Mão de ferro
Hasina, que governava o país desde 2009, conquistou o quarto mandato consecutivo em janeiro em eleição boicotada pela oposição. Ela liderava um movimento político herdado de seu pai, Mujibur Rahman, o fundador do estado, assassinado em 1975.
Desde o início dos anos 1990, Hasina rivalizava, embora se alternasse no poder, com sua rival Zia, que herdou seu próprio movimento político de seu marido, Ziaur Rahman, um governante assassinado em 1981.
Os protestos contra Hasina foram alimentados, em parte, pela pobreza. Após anos de crescimento econômico sólido, com a expansão da indústria de têxteis e roupas, com PIB de US$ 450 bilhões, o país se deparou com importações caras e inflação desenfreada, e o governo precisou de um resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI). Hasina também foi acusada de se tornar cada vez mais autoritária, devido à prisão de diversos adversários políticos.