Após críticas de Zelensky, EUA e Reino Unido querem gratidão da Ucrânia
Em meio à cúpula da Otan, presidente ucraniano contestou ausência de plano voltado para adesão do seu país à aliança
A reunião da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nesta semana, entre os dias 11 e 12, levantou dúvidas dos Estados Unidos e do Reino Unido sobre a gratidão do presidente da Ucrânia, Vlodymyr Zelensky, em relação ao apoio recebido desde o início da guerra contra a Rússia, em fevereiro do ano passado. No encontro, o ucraniano contestou a ausência de um plano voltado para a adesão do seu país à principal aliança militar ocidental.
Em evento à margem da cúpula, realizado na quarta-feira, o secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, disse que “as pessoas querem ver um pouco de gratidão”, após ter sido questionado sobre as assíduas críticas de Zelensky. Ele afirmou, ainda, que Kiev assumiu um comportamento de enxergar seus aliados como um depósito de armas, mas sem nutrir relações com congressistas conservadores americanos ou de outras nações.
“Às vezes você tem que persuadir os legisladores da América. Você tem que persuadir os políticos duvidosos de outros países de que, você sabe, vale a pena”, explicou. “Eu disse a eles no ano passado, quando dirigi 11 horas para receber uma lista, que não sou como a Amazon”.
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Em uma ocasião distinta, também na quarta-feira, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, foi questionado por um ativista ucraniano sobre o suposto papel do presidente americano, Joe Biden, em reter a entrada do país à Otan.
Acompanhado da Alemanha, os Estados Unidos alegam que qualquer movimentação poderia levar a aliança ocidental para o centro do conflito com a Rússia. Irritado, Sullivan respondeu que “o povo americano merece um certo grau de gratidão”.
“Os Estados Unidos da América se reforçaram para fornecer uma enorme quantidade de capacidade para ajudar a garantir que os bravos soldados da Ucrânia tenham munição, defesa aérea, infantaria, veículos de combate, equipamento de remoção de minas”, destacou.
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Na véspera das falas de Sullivan, Zelensky tratou como um “absurdo” a falta de comprometimento da Otan em avançar com as negociações para a entrada da Ucrânia na aliança, enquanto os membros afirmavam que seu país seria bem-vindo, sem estabelecer um caminho para tanto. Moderando os comentários no dia seguinte, ele agradeceu pelo apoio das nações aliadas durante um discurso na cúpula.
“O resultado da cúpula de líderes em Vilnius é um sucesso muito necessário e significativo para a Ucrânia. Sou grato a todos os líderes em todos os países da Otan pelo apoio muito prático e sem precedentes”, disse Zelensky , ao lado de Biden, do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e de outros líderes do G7.
No mesmo dia, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo prometeu apoio militar e financeiro e compartilhamento de inteligência aos ucranianos, bem como a aplicação de medidas imediatas caso Moscou promova novos ataques. Entre os participantes do grupo estão Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão, que não participa da aliança.
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Questionado sobre os comentários de Wallace, o presidente argumentou que acreditava que estava claro que os representantes ucranianos eram “muito gratos ao Reino Unido”. De toda forma, solicitou ao seu ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, presente na audiência, que telefonasse para a pasta britânica para reforçar os agradecimentos.
Suavizando a tensão, Sunak garantiu que Zelensky “expressou repetidamente sua gratidão” durante a bilateral que tiveram na quarta-feira. O posicionamento foi acompanhado por Biden ao ressaltar que a “defesa da liberdade não é obra de um dia ou de um ano” e que não pretende “vacilar” na luta pela Ucrânia.