Israel comemora a partir do pôr do sol desta quarta-feira (18) seus 70 anos de sua independência no calendário hebraico. Sua refundação recente –o país passou cerca de 2000 anos sob domínio estrangeiro–, no fim da década de 1940, veio acompanhada de controvérsia: apesar da presença judaica contínua através dos milênios, uma maioria árabe havia se estabelecido na região ao longo dos séculos de domínio turco-otomano. Com terras sagradas para o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, o aumento da imigração de judeus fugindo do Holocausto na Europa e a proposta de recriação de Israel através da partilha de terras levou ao acirramento das tensões.
Se por um lado a independência israelense veio acompanhada de um histórico de conflitos com os vizinhos árabes e com a população nativa de origem não-judaica –os palestinos– que acabou em grande parte deslocada ou marginalizada pela guerra, pela remarcação de fronteiras e pelos interesses geopolíticos regionais, por outro, o novo país se destacou através do pioneirismo, do empreendedorismo e da inovação, principalmente em áreas como tecnologia, ciência e medicina.
A “nação startup”, como Israel frequentemente é apelidado, possui hoje algo em torno de 4.300 e 6.000 startups ativas. Só na primeira metade do ano de 2017, 673 novas empresas emergentes surgiram no país, segundo o Geektime, blog de pesquisa sobre inovação. Como resultado, o comércio de itens de última geração e informática compõem grande parte da economia do país. Em fevereiro de 2018, a indústria de alta e média tecnologia representou 32% do total de exportações de manufatura no país, de acordo com dados oficiais. De chips de computadores, a aparelhos celulares, equipamentos de medicina avançada ou câmeras inteligentes para carros autônomos: poucos ítens da vida moderna parecem não ter sido pelo menos parcialmente criados ou desenvolvidos no pequeno país do Oriente Médio.
O desenvolvimento tecnológico e científico está diretamente ligado à história e à formação da sociedade israelense. Desde antes da criação do Estado, em 14 de maio de 1948, a população que vivia na região já lutava contra a seca e o clima desértico. Para solucionar a questão, desenvolver o plantio e conservar áreas verdes, assim como para garantir o abastecimento de água, foi necessário investir em pesquisa e tecnologia.
“Os primeiros imigrantes já sabiam que deveriam investir em pesquisa e educação para sobreviver em uma região inóspita e nada fértil”, diz o presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria (CBICI), Jayme Blay. Graças a esses esforços e a grandes investimentos do governo israelense, principalmente na década de 90, o país está na vanguarda em seguimentos como biotecnologia, tecnologias limpas e sustentáveis, segurança, tecnologia da informação e de equipamentos médicos.
Os judeus que imigraram à região logo após a independência, principalmente para o deserto de Negev, ao sul do país, foram responsáveis por um dos maiores e mais ambiciosos projetos de condução de água já realizados: o Aqueduto Nacional de Israel, que transporta água do Mar da Galileia para o sul do país.
A nação também se tornou uma das pioneiras no tratamento e reuso da água, criação de sistema de irrigação por gotejamento e processos de dessalinização da água marítima. Cerca de 80% da água potável consumida pela população local hoje é proveniente do mar.
A chegada constante de novos imigrantes agregou conhecimento e novas informações. O investimento em educação foi primordial para o desenvolvimento do país e para a difusão do ensino entre uma população extremamente heterogênea. Antes mesmo da independência, em 1924, uma das mais importantes instituições universitárias do país foi fundada: o Technion, Instituto de Tecnologia de Israel.
Tecnologia militar
Os conflitos regionais geraram a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias e de equipamentos militares. O país, que durante sua guerra de independência contra cinco exércitos árabes só recebeu ajuda da então Tchecoslováquia, não queria ser dependente da importação de armamentos e, por isso, decidiu criar sua própria indústria bélica.
Hoje, cerca de 30% de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento é destinado a produtos de natureza militar. Desde 1985, por exemplo, Israel é o maior exportador mundial de drones, responsável por cerca de 60% do mercado global da área. Israel também desenvolveu grande parte da tecnologia de visão noturna e aérea que atualmente equipa exércitos ocidentais, como dos Estados Unidos e de países europeus.
Novas tecnologias como sistemas de comunicação, transmissão via satélite e sistemas de proteção de dados, são exportadas inclusive para o Brasil, que possui hoje mais de 200 empresas israelenses atuando em seu território, segundo Blay.
“O Exército estabelece unidades tecnológicas que são dominantes, responsáveis por propor soluções usadas por muitas companhias israelenses de tecnologia”, diz Nadav Molchadsky, professor especialista em história judaica da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). “A sociedade civil e o Exército trabalham juntos”.
Cultura
No livro “Nação Empreendedora”, os autores Dan Senor e Saul Singer também mencionam a cultura como fator absoluto para a natureza empreendedora e inovadora da população local. Segundo eles, os israelenses são resilientes, questionam as autoridades, assumem riscos e valorizam o trabalho em equipe.
“Há algo na cultura [israelense] que dá mais liberdade para pensar fora da caixa, nos ensina coisas como inovação e improvisação”, afirma Nadav Molchadsky. “Há muita legitimidade na ideia de que pessoas jovens, mesmo com poucos recursos financeiros, vão encontrar uma forma de investir tempo e dinheiro para criar e desenvolver algo grande”.
A independência
Em 14 de maio de 1948, algumas horas antes do término do mandato britânico sobre a Palestina, o Parlamento provisório assinou a declaração de independência e David Ben-Gurion, presidente da Agência Judaica para a Palestina, declarou o estabelecimento de um Estado Judaico, a ser conhecido como Estado de Israel.
Um dia após a proclamação, tropas do Egito, Transjordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o país, dando início à chamada Guerra de 1948, também conhecida como Guerra de Independência pelos israelenses ou a “Nakba” (catástrofe) para os palestinos. As nações árabes apoiavam os palestinos e se opunham à proposta de divisão do território entre judeus e árabes.
A partir desse ponto, o conflito entre Israel e os palestinos se intensificou. A questão perdura até os dias atuais, com milhares de mortos dos dois lados, milhões de palestinos ainda refugiados e um impasse que parece não ter solução, apesar de inúmeros acordos momentâneos de paz: como conciliar duas narrativas válidas –mas em grande parte excludentes– pela soberania das terras locais?
Conheça a história do moderno Estado de Israel na linha do tempo abaixo: