Logo após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciar que um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza poderia acontecer tão logo quanto na próxima semana, um funcionário do Hamas disse que o comentário do americano era “prematuro” e “não corresponde à situação no terreno”, disse uma reportagem da agência de notícias Reuters nesta terça-feira, 27.
O membro do braço político do grupo palestino afirmou à Reuters que ainda existem “grandes lacunas [no acordo] que precisam ser preenchidas”.
O Hamas está analisando uma proposta acordada em uma reunião que ocorreu na semana passada, em Paris, entre Israel, os Estados Unidos e mediadores do Egito e do Catar. Esta é considerada a mais séria iniciativa para um cessar-fogo desde o colapso da última trégua, que durou uma semana, em novembro passado.
O projeto e as demandas
De acordo com informações obtidas pela Reuters, a proposta de trégua enviado ao Hamas prevê um cessar-fogo de 40 dias, durante o qual o Hamas libertaria 40 reféns – incluindo mulheres, menores de 19 anos, maiores de 50 e pessoas doentes – em troca de 400 palestinos detidos em prisões israelenses, numa proporção de 10 para um.
Israel reposicionaria as seus soldados fora das áreas habitadas de Gaza. Todos os palestinos, com exceção de homens em idade de combate (geralmente entre 18 e 60 anos), seriam autorizados a regressar às suas casas, em áreas anteriormente esvaziadas pelos israelenses. O fluxo de ajuda humanitária também aumentaria, incluindo infraestrutura para alojar as milhares de pessoas deslocadas e sem casas.
Mas a oferta ficou aquém das exigências anteriores do Hamas – que um cessar-fogo inclua um compromisso para o fim permanente da guerra e a retirada completa de soldados israelenses de Gaza. Também não aborda a demanda de que cerca de 1.500 palestinos detidos sejam libertados por Israel.
O que Biden disse
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou na segunda-feira 26 que acredita que um novo cessar-fogo entre Israel e Hamas pode começar na próxima semana. “Estamos perto”, disse Biden. “Minha esperança é que na próxima segunda-feira teremos um cessar-fogo.”
Segundo a rede americana CNN, o Hamas recuou em algumas exigências para um acordo. O grupo palestino exigia o fim da guerra e a completa retirada das forças israelenses de Gaza, o que foi tirado da mesa de negociação, assim como reduzido o número de prisioneiros palestinos que Israel teria de libertar.
O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matt Miller, disse que houve progresso nas negociações. “Continuamos a acreditar que um acordo é possível e vamos continuar em busca de fechá-lo”, afirmou.
Pausa durante o Ramadã
Biden afirmou, durante trecho do programa Late Night With Seth Meyers, da NBC, que Israel estaria disposto a interromper os ataques em Gaza durante o próximo mês de jejum muçulmano do Ramadã, caso um acordo para libertar reféns mantidos pelo grupo terrorista seja alcançado, informaram as redes de notícias internacionais Associated Press e Reuters.
“O Ramadã está chegando e houve um acordo entre os israelenses de que eles também não se envolveriam em atividades durante o Ramadã, a fim de nos dar tempo para retirar todos os reféns”, afirmou Biden. O período sagrado para os muçulmanos deve ter início no dia 10 de março.
Possível “entendimento”
No domingo, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, havia dito à CNN que os negociadores – Israel, Estados Unidos, Egito e Catar – tinham chegado a um “entendimento” sobre os contornos gerais para um cessar-fogo.
“Os representantes de Israel, dos Estados Unidos, do Egito e do Catar reuniram-se em Paris e chegaram a um entendimento entre os quatro sobre como seriam os contornos básicos de um acordo de reféns para um cessar-fogo temporário. Não vou entrar em detalhes sobre isso porque ainda está em negociação em termos de definição dos detalhes”, disse Sullivan.
“Terá de haver discussões indiretas entre o Catar e o Egito com o Hamas porque, em última análise, eles terão de concordar em libertar os reféns. Esse trabalho está em andamento”, acrescentou. “E esperamos que nos próximos dias possamos chegar a um ponto em que haja realmente um acordo firme e final sobre esta questão. Mas teremos que esperar para ver.”