A companhia aérea nacional indiana, a Air India, anunciou que pretende começar a operar voos diretos entre o aeroporto internacional de Nova Délhi, capital do país, e o aeroporto internacional Ben Gurion, de Tel-Aviv, maior cidade de Israel. Até aí, nada demais. A companhia aérea nacional de Israel, a El Al, já opera há anos voos entre Tel-Aviv e a cidade indiana de Mumbai. O extraordinário da história, entretanto, é que a Air India parece ter obtido aprovação para realizar o voo sobrevoando o espaço aéreo da Arábia Saudita, algo inédito nos últimos 70 anos.
Os sauditas, desde a independência de Israel em 1948, jamais permitiram o uso de seu espaço aéreo para voos de empresas aéreas israelenses ou de companhias de outros países operando comercialmente com destino ou origem em Israel. Mesmo voos particulares são obrigados a fazer uma parada intermediária antes da saída ou chegada em Israel caso queiram utilizar o espaço aéreo saudita. Até hoje, segundo reportagem do jornal israelense Haaretz, somente dois voos diretos entre Israel e a Arábia Saudita ocorreram, em ambos os casos realizados pelo Air Force One, o avião presidencial americano. Na primeira ocasião o avião levava o presidente George W. Bush; mais recentemente, o trecho foi feito por Donald Trump.
Os voos da El Al entre Israel e Índia são forçados a fazer uma rota muito mais longa que os 4.050km que separam Tel-Aviv e Mumbai em uma linha reta. A aérea israelense, para evitar o espaço aéreo saudita e de outros países árabes, parte de Tel-Aviv, voa até o sul de Israel, segue pelo golfo de Áqaba, cruza o Mar Vermelho, circundando a península arábica e seguindo em linha reta pelo oceano Índico até chegar à cidade indiana — o percurso adiciona cerca de 2.500km (ou aproximadamente três horas) ao voo, que dura uma média de oito horas.
A distância entre Tel-Aviv e Nova Délhi e entre Tel-Aviv e Mumbai são praticamente idênticas. No entanto, o voo da Air India, se utilizar o espaço aéreo saudita como planejado, deve levar menos de cinco horas e usar muito menos combustível, sendo portanto mais econômico e com tarifas menores.
A El Al já informou que exigiu do governo israelense autorização para sobrevoar a Arábia Saudita em suas rotas rumo ao Oriente, no que chamou de “concorrência justa”.
Inimigo comum
Apesar de oficiais sauditas de baixo escalão até o presente terem negado a informação, todos os planos de voo, horários de partida e chegada, bem como as descrições de rotas levam a crer que o novo trajeto tenha realmente sido autorizado, representando a primeira prova pública de que as relações entre Israel e Arábia Saudita — até aqui restritas a contatos de segurança secretos — realmente estejam melhorando.
As relações mais amenas são fruto, principalmente, da percepção de que o Irã é o inimigo comum e uma ameaça regional a ambos os países — e mostra que a questão dos palestinos assumiu segunda posição na agenda das relações de Israel com o mundo árabe, algo inimaginável até as aspirações nucleares e de hegemonia xiita iranianas terem sacudido a lógica do Oriente Médio.