O oligarca russo Roman Abramovich e negociadores ucranianos que participam do processo de diálogo com a Rússia sofreram sintomas de um possível envenenamento após um encontro em Kiev mais cedo neste mês, disseram pessoas próximas à questão de acordo com o jornal Wall Street Journal.
Após o encontro na capital ucraniana, Abramovich, dono do clube inglês Chelsea e sancionado por autoridades europeias, viajou entre Moscou, Lviv e outros pontos de negociação para participar das conversas. Assim como ele, dois outros membros da delegação diplomática ucraniana desenvolveram sintomas que incluem olhos vermelhos, lacrimejamento incessante e com dor, e pele descascando nas mãos e no rosto.
De acordo com o jornal, as pessoas próximas ao assunto culparam Moscou pelo suposto ataque e disseram que o objetivo seria uma sabotagem às conversas para encerrar a guerra. Uma fonte próxima a Abramovich disse não ser certo quem mirou o grupo, segundo a publicação.
Procurado pelo jornal, o Kremlin não respondeu pedidos de comentários sobre o suposto envenenamento.
De acordo com as fontes ouvidas pelo jornal, todos os afetados já melhoraram e não correm risco de vida. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que se encontrou com o magnata russo, não foi afetado.
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Especialistas ocidentais que analisaram o incidente dizem ser difícil determinar se os sintomas foram causados por um agente químico ou biológico ou por algum tipo de ataque por radiação, disseram as pessoas com conhecimento do assunto.
Governos ocidentais afirmam que Moscou usou armas químicas em ao menos duas ocasiões recentes. Em 2018, o ex-espião russo Sergei Skripal teria sido envenenado com um agente nervoso.
Ele e sua filha, Yulia, foram encontrados inconscientes em um banco de uma praça Salisbury, Inglaterra. As autoridades inglesas culparam o governo russo pelo uso de um agente chamado Novichok na tentativa de assassinato que também afetou dois britânicos, incluindo uma mulher que morreu em decorrência dos sintomas.
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Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para Berlim para tratar de um envenenamento por um raro agente que ataca o sistema nervoso. Ele acusa o governo russo, que nega qualquer envolvimento.
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Navalny foi preso no início de 2021 e cumpre pena de dois anos e meio por violações da liberdade condicional, sentença tida por ele como forjada para frustrar suas ambições políticas. Desde então, o opositor tem criticado constantemente a forma como tem sido tratado na prisão. Em outubro, ele afirmou estar sendo tratado como terrorista.
Mais cedo neste mês, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, principal aliança militar ocidental, já havia alertado sobre possível uso de bombas de fragmentação na Ucrânia, o que seria uma violação à lei internacional.
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A declaração de Otan segue alegações de especialistas e órgãos de monitoramento. Segundo a organização de direitos humanos Human Rights Watch, com base em análise de 40 vídeos e fotografias, houve uso de munições de fragmentação em ao menos três áreas residenciais de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, em 28 de fevereiro.
Munições de fragmentação abrem no ar e dispersam de dezenas a centenas submunições em uma grande área. Frequentemente elas não explodem em um impacto inicial, deixando “restos” não detonados que agem como minas terrestres se forem tocados.