A operação deflagrada pela Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por suposta participação na tentativa de golpe para reverter os resultados das eleições de 2022 atraiu atenção da imprensa internacional nesta quinta-feira, 8. A investigação aponta que Bolsonaro tinha conhecimento do documento conhecido como “minuta do golpe”, que apresentava medidas para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo a prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
Parte dos veículos internacionais optou por trazer no título a informação de que o ex-presidente foi obrigado a entregar o passaporte para os agentes da PF. É o caso do jornal britânico The Guardian, que ressalta que policiais “visitaram a casa de férias de Bolsonaro, no litoral sul do Rio de Janeiro, onde ele teve 24 horas para entregar o passaporte e foi proibido de fazer contato com os demais suspeitos”, e do argentino La Nación, que assinala que “Bolsonaro não foi revistado, mas, como os demais, foi obrigado a entregar seu passaporte.”
O jornal americano The Washington Post seguiu a mesma linha. Além de tratar do passaporte, a matéria escreve que o “anúncio [da operação] provocou ondas de choque político no maior país da América Latina” e que a investigação mirou “alguns dos conselheiros e assessores mais próximos de Bolsonaro, incluindo o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o companheiro de chapa de Bolsonaro, Walter Braga Netto”. A agência de notícias Reuters foi além e sugere que novas prisões devem ser feitas em breve, “já que os suspeitos são forçados a permanecer no Brasil para enfrentar quaisquer possíveis acusações”.
Ainda nos Estados Unidos, o jornal New York Times destacou que Bolsonaro “supervisionou uma ampla conspiração para manter o poder independentemente dos resultados das eleições de 2022”. O texto também perpassa pela inelegibilidade do ex-candidato do PL e pelas tentativas de descredibilizar o sistema eleitoral, mas afirma que as investigações desta quinta-feira mostram um “plano muito mais organizado para subverter a jovem democracia do Brasil”.
“Por mais de um ano antes das eleições de 2022 no Brasil, Bolsonaro semeou abertamente dúvidas sobre a segurança dos sistemas eleitorais de seu país e alertou que se perdesse, seria resultado de fraude”, continuou o NYT. “Quando, de fato, perdeu para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro recusou-se a ceder inequivocamente e os seus apoiantes organizaram protestos de meses que culminaram num motim em Janeiro de 2023 no Congresso do Brasil, no Supremo Tribunal e nos gabinetes presidenciais.”
A emissora britânica BBC, por sua vez, chamou atenção para o fato de que “Bolsonaro estava nos EUA quando aconteceu o ataque ao Congresso”, em 8 de janeiro de 2023, e que “mais de 1.400 pessoas foram acusadas pelo seu alegado papel nos tumultos, mas até agora apenas algumas dezenas foram condenadas”. A agência de notícias Associated Press também retomou o passado e explicou que “a Polícia Federal revistou propriedades associadas ao filho de Bolsonaro, Carlos, vereador do Rio de Janeiro, e ao ex-chefe da agência de inteligência do Brasil no governo de Bolsonaro, Alexandre Ramagem” em janeiro.
Já o jornal espanhol El País ressaltou no título que a participação de “vários generais aposentados de conspiração golpista” no plano pró-Bolsonaro. O veículo acrescenta que “a Polícia Federal brasileira bateu à porta da casa onde Jair Bolsonaro passa os verões pela segunda vez em duas semanas” e que “o cerco judicial em torno de Bolsonaro vem se estreitando desde que, ao deixar o poder, ele perdeu a imunidade, mas nunca antes o ex-presidente havia sido abordado diretamente pelos investigadores do caso mais grave contra ele, a tentativa de abolir o Estado de Direito”.
Na América Latina, o argentino Clarín atentou para a prisão do presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, por porte ilegal de armas. Ele foi detido durante uma operação de busca e apreensão. Valdemar teria colocado o PL, definido como “principal força de oposição no Brasil”, “à disposição de supostos planos golpistas perpetrados pelo círculo de aliados civis e militares de Bolsonaro após as eleições de 2022, nas quais Luiz Inácio Lula da Silva venceu, por estreita margem”.