A menina Amal Hussain, de 7 anos, nasceu na cidade de Saada, no norte do Iêmen. Em 2015, depois que se iniciaram os bombardeios da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra os hutis, rebeldes apoiados pelo Irã, sua família foi obrigada a mudar-se para um campo de refugiados. Em outubro, ela começou a passar mal. Seu pai a levou para um hospital do Unicef numa cidade próxima de Aslam. No leito, ao lado da mãe, ela foi fotografada com ossos à mostra e olhar perdido. A imagem correu o mundo. “Vejam. Não há carne, apenas ossos”, disse a médica aos jornalistas do The New York Times. Amal foi alimentada com leite a cada duas horas. Mas seu corpinho não digeria o líquido e ela vomitava com frequência. Depois de receber alta, Amal voltou para o barraco de palha e lona plástica do campo de refugiados. Ela piorou. Seu pai não tinha dinheiro para encher o tanque e levá-la novamente para receber atendimento. No dia 26 de outubro de 2018, aos olhos do mundo inteiro, a pequena Amal não resistiu. “Meu coração está despedaçado”, disse Mariam Ali, a mãe. “Amal vivia sorrindo. Agora estou preocupada com meus outros filhos.” Por todo o país, quase 2 milhões de crianças sofrem de desnutrição severa. É a maior crise humanitária do planeta — e o mundo vê, as potências veem, os organismos internacionais veem, mas ninguém se mobiliza por um conflito longínquo como o do Iêmen. Nele, Arábia Saudita e Irã, teocracias rivais do Oriente Médio, digladiam-se em uma guerra por procuração. Por Amal, pobre Amal, não há mais nada a fazer. E seu nome, em árabe, significa “esperança”.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608