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A batalha do 5G: como o Brasil se envolveu na disputa entre EUA e China

Escolha brasileira por empresa que implantará tecnologia no país pode ser seguida de retaliação, diz especialista em economia chinesa

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jun 2020, 12h03 - Publicado em 25 jun 2020, 11h30
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  • A briga pelo monopólio da tecnologia 5G mundial está no centro da guerra comercial entre China e Estados Unidos. E nesta quarta-feira 24 o governo americano elevou o tom contra os serviços fornecidos pela chinesa Huawei, ao afirmar em uma nota divulgada pela Embaixada em Brasília que o mundo deve resistir ao “estado de vigilância do Partido Comunista Chinês”. Alvo de lobby de ambas as nações, o Brasil foi colocado em uma posição delicada na disputa.

    A Huawei deixa claro seu interesse em participar da implantação da tecnologia no país. Porém, ao mesmo tempo em que tenta conservar os laços com a China – o maior parceiro comercial brasileiro – o governo de Jair Bolsonaro também força uma aproximação com os Estados Unidos.

    O governo americano alega que a tecnologia da Huawei representa uma ameaça à segurança nacional nas nações que a adotam, pela proximidade da empresa com o governo chinês, e protagoniza uma campanha para influenciar seus aliados a escolher tecnologias alternativas à oferecida por Pequim. Além da Huawei, as outras grandes empresas que oferecem serviços de 5G semelhantes ao chinês são a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e a sul-coreana Samsung – não há nenhuma empresa americana que disputa o monopólio no mesmo patamar.

    O Brasil prepara um leilão para escolher empresas que vão instalar a rede de telefonia 5G no país. O evento, porém, não deve mais acontecer em 2020.

    As operadoras de telefonia móvel no Brasil têm ressaltado a importância de não se depender de um único fornecedor. Em uma live promovida pelo deputado Vinícius Carvalho (Republicanos-SP) na segunda-feira 22, o vice-presidente de relações institucionais da Claro, Fábio Andrade, destacou a seriedade da definição de aspectos técnicos para a instalação da tecnologia e da elucidação da permissão ou não do uso de equipamentos chineses, com esclarecimentos sobre quanto poderá ser empregado por cada empresa. “Essa questão política do leilão é muito importante, porque impacta no custo dos equipamentos de uma maneira muito grande”, disse.

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    O governo brasileiro sinaliza alinhamento com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que o vice-presidente Hamilton Mourão costura a relação com empresários e políticos chineses há mais de um ano. Por sua vez, a Huawei continua se defendendo e negando as acusações americanas.

    As redes 5G prometem velocidades de download até vinte vezes maiores do que no 4G, permitem que mais gente fique conectada em uma mesma região simultaneamente e oferece conectividade quase instantânea entre aparelhos.

    Nesta semana o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, deu mais um passo na investida dos Estados Unidos contra a China. Em um comunicado divulgado pela Embaixada no Brasil, o diplomata afirmou que “cidadãos de todo o mundo estão acordando para o perigo do estado de vigilância do Partido Comunista Chinês”.

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    Sem apresentar dados concretos para sua afirmação, o secretario de Estado americano defendeu que a “maré está virando” em favor das empresas de telecomunicações que os Estados Unidos consideram “limpas”. A multinacional espanhola Telefónica, dona da operadora Vivo, no Brasil, também foi mencionada pelo chanceler. Pompeo fez alusão a uma declaração do CEO da empresa, José María Álvarez-Pallete, em que ele afirma que, em breve, suas marcas não usariam equipamentos de “fornecedores não confiáveis”.

    A empresa de telecomunicações é privada. Mas, para Roberto Dumas, especialista em economia chinesa do Ibmec, “a Huawei pode sim ser controlada pelo Exército de Libertação Popular da China”, já que durante as reformas promovidas por Deng Xiaoping entre 1978 e 1990 expandiu-se a influência de militares em empresas chinesas. O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, de 74 anos, é ex-militar.

    Dumas, porém, reforça a importância de uma análise técnica do Brasil antes da tomada de qualquer deliberação. “A decisão do Brasil terá grande impacto, e deve ser tomada com base em análises técnicas e não ideológicas”, diz.

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    Para o especialista, a escolha brasileira pode ser seguida de retaliação de qualquer um dos governos envolvidos na disputa. “Se o Brasil optar pelas tecnologias impulsionadas pelos Estados Unidos, uma retaliação chinesa seria péssima para o agronegócio”, diz.

    Oficialmente, a embaixada americana em Brasília afirma que o resultado do leilão não afetará os rumos das negociações econômicas entre Brasil e Estados Unidos. “É uma questão de segurança, não é uma batalha comercial”, disse uma representante da diplomacia americana. “Mas a retaliação pode vir escondida, pode haver má vontade no futuro”, opina Dumas.

    Segundo afirmou o embaixador Todd Chapman em entrevista à Folha de S.Paulo, os Estados Unidos já discutem com o governo brasileiro e com empresas nacionais o financiamento para compra de equipamentos da Ericsson e da Nokia para a infraestrutura da rede 5G no país.

    Em janeiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, concedeu à Huawei um papel limitado na rede móvel 5G do país, apesar da pressão dos americanos. Porém, de acordo com a imprensa britânica, o governo vem conduzindo uma revisão do papel da empresa chinesa no país para garantir sua segurança.

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