2ª Guerra Mundial: Alemanha se recusa a dar 1 trilhão de euros à Polônia
Quase 80 anos após o fim do conflito, Polônia pediu restituição trilionária; autoridades alemãs afirmaram que reparações de guerra estão encerradas

O líder do partido conservador Lei e Justiça (PiS) da Polônia, Jarosław Kaczyński, apresentou na quinta-feira 1 um relatório avaliando os danos financeiros causados pela invasão e ocupação do país pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Discursando em um evento que tinha como tema o 83º aniversário da invasão alemã em 1939, Kaczyński disse que uma comissão parlamentar polonesa calculou as perdas totais do país em 1,32 trilhões de euros (R$ 6,7 trilhões).
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O político, que não ocupa um cargo no governo, mas é visto como uma força motriz por trás do partido que está no poder na Polônia, anunciou que solicitará formalmente as reparações, embora considere que as negociações sejam “longas e difíceis”.
A Alemanha rejeitou o relatório alegando que não deve nada ao seu vizinho oriental. “A posição do governo federal permanece inalterada”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores alemão na sexta-feira, 2. “Na visão do governo este assunto está encerrado”, completou.
De acordo com o órgão, Berlim pagou cerca de 74 bilhões de euros em reparações desde o fim da guerra, principalmente para Israel e Estados da Europa Ocidental ou indivíduos que vivem nesses países.
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O governo alemão argumenta que a Polônia renunciou ao seu direito a reparações de guerra em 1953, como parte de um acordo no qual seu aliado, a Alemanha Oriental, cedeu territórios além da fronteira de Oder-Neisse para a Polônia e a Rússia. O atual governo polonês argumenta que a renúncia foi acordada sob pressão da União Soviética.
O relatório parlamentar, que foi encomendado há cinco anos, mas cuja publicação foi repetidamente adiada, testará ainda mais as relações diplomáticas entre a Polônia e a Alemanha, no momento em que os dois membros da Otan tentam mostrar uma frente unida sobre a guerra da Rússia na Ucrânia.
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O ex-primeiro-ministro polonês Donald Tusk disse que o ressurgimento da questão das reparações faz parte de uma “campanha anti-alemã” predominantemente projetada para reforçar o apoio ao partido PiS de Kaczyński antes das eleições polonesas no próximo outono.
Em um discurso principal em Praga no início desta semana, o chanceler alemão, Olaf Scholz, sinalizou uma postura mais conflituosa sobre a repressão da Polônia à independência judicial, dizendo que os fundos da União Europeia devem estar vinculados à manutenção dos padrões do Estado de direito.
A Alemanha diz que quaisquer questões pendentes de reparação foram resolvidas com o acordo “dois mais quatro” entre os Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética que selou a reunificação em 1990 – um acordo, disse um porta-voz do governo na sexta-feira, que a Polônia “recebeu sem ressalvas” na época.