Na terra em que pão de queijo é patrimônio imaterial do estado, e onde vários encontros de família acontecem em função do frango ao molho pardo, do tutu de feijão ou tropeiro com linguiça preparados no fogão a lenha, outra vertente vem ganhando força e mostrando que é possível reinventar cardápios tão tradicionais. No lugar do leite e do queijo, entram batata baroa, batata doce e inhame. Embutidos? Só se for de lentilha, castanha, feijão e beterraba. E assim, Belo Horizonte vai abrindo a mente e as papilas para as delícias da cozinha vegetariana (sem carne) e vegana (sem nenhum derivado de origem animal, incluindo leite, ovos e até mel).
O #hellocidades, plataforma de Motorola que incentiva a reconexão entre pessoas e as cidades onde vivem e propõe a descoberta de novos jeitos de aproveitar o espaço urbano, selecionou alguns espaços a serem explorados por quem não faz questão de alimentos de origem animal nas refeições mineiras.
“Minha filha é vegana desde os seis anos. E nós sempre tivemos que adaptar as refeições para ela. Com isso, fomos aprendendo que era possível comer sem carne. A família então quis passar para frente esse conhecimento e oferecer mais opções para vegetarianos e veganos. Não queremos mudar a culinária de ninguém, mas mostrar que existem outras opções”, conta Valéria Bonetti, proprietária da Venne Mercearia.
O estabelecimento da família no bairro Floresta, região Leste da capital, conhecido como o primeiro açougue vegano da cidade, abriu as portas há menos de um ano e vem modificando a relação dos mineiros e com a gastronomia local. No dia da inauguração, o estabelecimento vendeu mais de 70 quilos de “carnes”, todas à base de vegetais. Vários tipos de hambúrgueres, embutidos, salsicha vegana, proteína de soja marinada e temperada, em pedaços ou moída, fazem sucesso entre os clientes.
Os produtos são feitos pela família dona da mercearia e sem uso de conservantes. Tem hambúrguer de lentilha com quinua, grão de bico com linhaça, feijão com beterraba, abóbora com quinoa. O rosbife é feito com lentilha e castanha, a mortadela é de feijão carioca, o salame é produzido com feijão roxo e cogumelos e a salsicha é de beterraba e arroz cozido.
“Os alimentos são bem parecidos com os tradicionais. Apesar de a minha filha nem lembrar que gosto têm as carnes, comida é sempre algo afetivo, as pessoas se juntam para comer. Às vezes o vegetariano pode ficar isolado, então criamos os embutidos bem semelhantes para quem não pode comer por algum motivo social ou de saúde. Tem até presunto de grão de bico com tomate seco”, conta Valéria.
Entre as novidades da Venne está a manteiga com de leite de coco com óleo de girassol, o milk shake de inhame, sem lactose, o bacon de coco e os salgados: coxinha de jaca e pastel assado de carne marinada de soja. Os ingredientes são de dar água na boca e, segundo Valéria, atraem inclusive quem come carne, mas quer variar o cardápio de vez em quando.
Origens simples
Falar da comida mineira é voltar no tempo. Suas cores, sabores e aromas marcantes são resultado de uma mistura de influências dos diferentes povos que ocuparam o território na época do ciclo do ouro, principalmente vindos de Portugal, dos escravos que trabalhavam nas minas, e os indígenas. Com a inflação da economia local, a solução encontrada foi priorizar ingredientes que hoje são estrelas dessa gastronomia, como frango e porco, mas também mandioca, feijão, milho, ora-pro-nobis e quiabo, opções frequentes de quem não consome produtos de origem animal.
Segundo dados do Ibope, mais de 15 milhões de brasileiros se dizem vegetarianos, e o número cresce a cada dia. Em BH, segundo a mesma pesquisa, mais de 213 mil pessoas decidiram cortar a carne e seguir uma dieta vegetariana. A cozinheira Fabiana Soares Ribeiro é uma dessas. Vegana desde maio de 2017, ela prioriza o preparo dos alimentos em casa para reunir amigos e familiares em torno dos sabores da culinária mineira reinventada.
“Faço pão de queijo com batata baroa, batata doce e inhame no lugar do queijo. Tropeiro, ora-pro-nobis com angu. Já fiz até quiabo com carne de jaca. Fui vegetariana por um tempão, depois passei a [reduzir o consumo e] comer bem pouco leite e ovo. Quando parei, nem senti falta. Sempre ofereço comidinhas veganas para meus amigos e tento influenciá-los de forma positiva”, diz Fabiana.
Quando precisa pedir comida fora de casa, Fabiana indica suas opções preferidas. “O Japão Sushi Bar tem um combo vegetariano e vegano. Peço sanduíche no Hora Extra, que tem bacon vegano. E o Philippe’s Pizza”, conta.
Novas experiências
A estudante de direito Ana Flávia Pimenta se lembra das dificuldades que teve quando decidiu largar os produtos de origem animal. Esses percalços a levaram a criar o blog Pimenta Vegana, que é um guia completo de comida vegana em Belo Horizonte. Para Ana Flávia, a parte mais difícil do veganismo é o convívio social, seja em churrasco com amigos ou num almoço de comida mineira.
“Eu tinha dificuldade, mas, com o passar do tempo, acabei fazendo amigos e conhecendo pessoas veganas nas redes sociais. Isso facilitou, porque comecei a ver pessoas que consomem nesse meio. Além disso, a demanda por restaurantes está crescendo muito. No meu blog tem uma lista grande e ainda tenho mais 80 para inserir”, conta a blogueira.
Ana Flávia indica os estabelecimentos que mais frequenta: “Gosto muito do Camaradería, que tem opções de almoço e japonês vegano. No Las Chicas, toda sexta costuma ter feijoada vegana. O Café com Letras também sempre tem uma opção de almoço sem ingredientes de origem animal, muitas vezes adequando pratos típicos. O Pé de Couve é um self-service vegano bem acessível”, lista.
Há, ainda, a lanchonete do Veganza Empório Vegetariano, que funciona na Savassi, região Centro-Sul da capital. O estabelecimento começou a vender diversas opções para quem não ingere produtos de origem animal. Os clientes podem saborear coxinha de jaca, hamburgão de lentilha, quibe sem carne feito com grão de bico, pão de queijo sem queijo e feito com batata doce e sucos naturais, por exemplo.
Veja mais informações sobre esses e outros restaurantes veganos e vegetarianos para você experimentar os sabores de Belo Horizonte sem carne e leite. Vai dar uma chegadinha em algum deles? Então, tire uma foto daquele que você mais gostar e publique com a hashtag #hellocidades. Afinal, imagem de comida sempre bomba nas redes sociais, né? Para saber mais, acesse o hub hellomoto.com.br.
Las Chicas Vegan
Edifício Maletta – Rua da Bahia, 233, sobreloja 20 – Centro.
Japão Sushi Bar
Rua Furquim, 297 – Pompéia
Hora Extra Hamburgueria e Petiscos
Av. do Contorno, 1991 – Santa Efigênia
Philippe’s Pizza
Av. José Cândido da Silveira, 2790 – Santa Inês
Camaradería Gastrobar
Rua Cláudio Manoel, 555 – Funcionários
Rua Antônio de Albuquerque, 781 – Savassi
Pé de Couve
Rua Goiás, 307 – Centro
Venne Mercearia
Rua Itajubá, 654 – Floresta
Veganza Empório Vegetariano
Rua Fernandes Tourinho, 363, loja 8 – Funcionários