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Mercado de azeite brasileiro cresce e aparece — a preços caríssimos

Com maior diversidade de produtos nacionais e importados, produto deixa a infância e a adolescência para entrar na idade adulta

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h33 - Publicado em 28 abr 2024, 08h00

Quem percorre as prateleiras de azeites nos supermercados com um tantinho de desatenção pode imaginar ter parado numa adega. As garrafas, com tamanhos e formatos diversos, indicam as variedades de azeitonas usadas na produção, como a espanhola Arbequina, a grega Koroneiki ou a portuguesa Cordovil, além de uma vastidão de safras. Os preços, ressalve-se, também são equivalentes aos dos vinhos. Rótulos mais simples estão na casa dos 30 reais — as alternativas especiais, tanto as nacionais como as importadas, passam com folga dos 100 reais. As mudanças climáticas que atingem as regiões produtoras de olivas, de verão inclemente e seca exagerada, sobretudo na Europa, jogaram para baixo a colheita, atalho para o encarecimento na ponta final, do consumidor.

Bem-vindo ao novíssimo mundo do azeite, que deixa a infância e a adolescência para entrar na idade adulta. O mercado do produto, que em 2022 bateu em 70 bilhões de dólares, deve alcançar os 90,5 bilhões de dólares em 2030. A título de comparação: o faturamento global com vinhos é o dobro. Trata-se, agora, de buscar conhecimento e incrementar a harmonização com diferentes pratos. Um dos bons exemplos desse caminho de valorização cuidadosa brota da região do Alentejo, em Portugal. Ali, o grupo Esporão, de celebrada viticultura, começou a oferecer azeites cobiçados pelo gosto brasileiro. O catálogo aos poucos se amplia, como reflexo natural do interesse. Há blends, como são chamadas as misturas de variedades, ou os tipos monovarietais, elaborados com uma única azeitona, caso da Cobrançosa, que saiu de Trás-os-­Montes para vicejar no Alentejo. “Não trabalhamos com nenhuma azeitona estrangeira, porque faz parte da nossa proposta e da nossa identidade”, diz a azeitóloga Ana Carrilho, do Esporão. “Queremos mostrar a diversidade que há em Portugal.” Hoje, 75% da produção da reputada casa lusitana é exportada, boa parte dela ao Brasil.

A procura do que vem de fora, é natural, alimentou o plantio pelas bandas de cá, com bons resultados. Recentemente, o rótulo Potenza Frutado, elaborado pela Fazenda Serra dos Tapes, em Canguçu, no Rio Grande do Sul, foi escolhido o melhor azeite de oliva extravirgem pelo Guia ESAO, elaborado pela Escola Superior do Azeite de Oliva, na Espanha, referência mundial.

A láurea é reflexo da animação do setor. Modalidades artesanais têm chamado a atenção dos especialistas e fomentado o movimento de olivoturismo, como é conhecido o negócio de viagem relacionada ao azeite. O Rio Grande do Sul é o maior produtor brasileiro. Na Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo, há riqueza indizível de escolhas. O Oliq, em São Bento do Sapucaí (SP), tem um restaurante que oferece até menu degustação de azeites, alguns deles premiados em concursos. Em Itanhandu (MG), a Fazenda Serra que Chora oferece hospedagem em pousada para os visitantes ansiosos por pernoitar próximos aos olivais.

Apesar do avanço, há ainda muito espaço para evolução — e convém lembrar que nos restaurantes o azeite é oferecido tal qual uma commodity sem graça, como se fosse tudo a mesma coisa. É comum a apresentação do precioso líquido em embalagens de vidro, insossas, sem indicação de origem. Nesse aspecto, a bem da verdade, a estrada é longa. Se há sommeliers para vinhos, é urgente tê-los também para um elemento da gastronomia que não se resume a mero molho para saladas. Com a palavra o chef francês radicado em Mônaco, Alain Ducasse, em cujos restaurantes já pousaram 21 estrelas do Guia Michelin: “Se minha cozinha pudesse ser descrita por um único sabor, seria o do azeite extravirgem, sutil e aromático”.

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890

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