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O dia em que as lentes foram o maior pesadelo de Cristiano Ronaldo

Para espanto geral, o mais vaidoso dos craques foi parar no banco de reservas e, entre sorrisos amarelos, assistiu a um show de Portugal e de seu substituto

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 dez 2022, 19h59 - Publicado em 6 dez 2022, 17h56

DOHA – Todos os olhares e lentes se voltavam a Cristiano Ronaldo. Feito os paparazzi que costumam persegui-lo durante as férias em Mykonos ou Ibiza, os fotógrafos credenciados pela Fifa ignoraram o protocolo dos hinos nacionais e se digladiaram pelo melhor clique do novo reserva mais badalado da Copa do Mundo. O choque começou na entrada dos torcedores de Portugal, incluindo aqueles nascidos na Índia, em Bangladesh, e tantos outros países, que foram ao estádio Lusail só para vê-lo. “Como assim, CR7 no banco?”. A grande notícia da goleada portuguesa por 6 a 1 sobre a Suíça pelas oitavas de final foi a ausência do craque de 37 anos, por motivos ainda a serem plenamente esclarecidos, mas já altamente suspeitos, do time titular. A lógica faz crer se tratar de mais um duro golpe na imagem de profissional exemplar que o filho mais pródigo da Ilha da Madeira construiu.

O desconforto geral era quase palpável. Logo ele, que tantas vezes na carreira fez questão de olhar para o telão para conferir o penteado, desta vez parecia querer enterrar a cabeça em um buraco a cada vez que era focalizado. O clima foi ficando cada vez mais embaraçoso a cada gol empilhado por seu substituto, o jovem Gonçalo Ramos, de 21 anos – foram três belos tentos. Cristiano até entrou, aos 28 do segundo tempo, para delírio absoluto dos adeptos. Quando balançou as redes, em uma clássica bomba de perna esquerda, o gol foi invalidado por impedimento. E assim Cristiano viveu a noite mais estranha de sua gloriosa carreira, justamente em um show de gols de sua equipe.

O técnico Fernando Santos já havia dado a senha ao comentar sobre o flagra que deu volta ao mundo na última partida: Cristiano soltando palavrões ao ser substituído na derrota para a Coreia do Sul. Na ocasião, ambos fizeram questão de apagar o incêndio ao dizer que as ofensas eram para um atleta asiático, não para o mister. Na entrevista da véspera, no entanto, Santos não parecia tão convencido. “No campo, não ouvi nada. Só vi ele a discutir com o jogador da Coreia. Mas já vi as imagens e não gostei nada. Não gostei nada. E a partir daí, as coisas se resolvem dentro de casa. E estão resolvidas. Ponto final sobre essa questão.”

Não era de se esperar, no entanto, que a lavagem de roupa suja culminaria na exclusão do capitão do time do 11 inicial. Pela seleção, Cristiano não começava um jogo decisivo sentado havia 18 anos, desde a Eurocopa de 2004, quando o Gajo tinha apenas 19 anos. Em 2022, no entanto, a situação vem se tornando corriqueira e foi o estopim para sua escandalosa saída do Manchester United, equipe na qual também desfrutava de enorme prestígio até pouco tempo. Os ataques de estrelismo incluíram uma tentativa forçada de mudar de ares, a recusa de entrar no fim de uma partida e o abandono de Old Trafford antes da hora. Depois de detonar meio mundo, incluindo até os cozinheiros do clube e, claro, o técnico Erik Ten Hag, CR7 acabou tendo o contrato rescindido. O que sempre foi visto como obsessão por excelência esbarrou no egoísmo desmedido.

A Copa, então, pintava – e ainda pinta, pois Portugal segue firme – como sua chance de redenção. Mas a noite desta terça deixa diversas interrogações. Questionado ao chegar ao estádio, Fernando Santos jurou de pé junto que a decisão foi meramente tática. “Nada ligado, esse assunto está encerrado. Foi uma opção estratégica, que já preparava havia uns dias para este jogo, com movimentos diferentes. Uma opção estratégica, não mais do que isso, ele é um profissional exemplar e se tiver de ir a jogo, vai ajudar muito Portugal”, disse ao canal lusitano Sport TV. O jogo até sustentou sua tese, já que o time funcionou bem melhor sem o veterano.

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No aquecimento, Cristiano parecia disperso e não participou do treino que mais gosta, o de finalização. Por ironia do destino, o placar foi logo aberto por seu substituto, Gonçalo Ramos, um golaço por sinal, e depois pelo zagueiro luso-brasileiro Pepe, quem assumiu a sua braçadeira. No telão, o semblante do homem mais seguido no Instagram no planeta era de constrangimento, um sorriso amarelo de quem já podia imaginar o que seus haters estariam pensando. Logo no início da segunda etapa, os gritos de “Ronaldo, Ronaldo” se tornaram ensurdecedores e Fernando Santos atendeu aos apelos. A cada toque na bola, um burburinho, mas não era mesmo dia do astro, que segue a um gol de igualar o recorde do lendário Eusébio, maior goleador lusitano em Mundiais, com nove bolas na rede.

A presença de Cristiano no banco certamente eclipsará a excepcional atuação do time, que furou seis vezes a melhor defesa das Eliminatórias Europeias. Daqui até as quartas de final contra Marrocos, o assunto dominará todas as entrevistas do time. Resta a dúvida se, ao contrário do que fez em seu último clube, CR7 prezará pela harmonia no elenco ou novamente botará a boca no trombone. Segundo o diário espanhol Marca, o atacante já tem tudo acertado para reforçar o Al-Nassr, da Arábia Saudita, em um contrato bilionário, um acordo que ainda é difícil de acreditar. Caso vença o Mundial, único grande título que lhe falta, é possível que Cristiano mude de ideia e decida pendurar as chuteiras no topo, consagrado como um dos maiores de todos os tempos. Se não, é possível que tenha um fim de carreira melancólico.

No banco, ao lado de João Mario e Rafael Leão -
No banco, ao lado de João Mario e Rafael Leão – (Paul Ellis/AFP)
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