Neymar faz falta e Brasil sofre, mas tem outros protagonistas prontos
Vinicius Junior, de 22 anos, e Rodrygo, de 21, podem ser as estrelas que Tite tanto buscava; e Casemiro, o líder a guiar os jovens ao hexa
DOHA – No primeiro teste sem Neymar, novamente lesionado, a seleção brasileira passou de ano com uma nota 6,5 ou, no máximo, 7. Diante de um adversário encardido – vale lembrar que a Suíça eliminou a França na Euro e tirou a Itália da Copa nas eliminatórias –, o Brasil se ressentiu da classe de seu camisa 10 e das mudanças de Tite (algumas contestáveis), que demoraram a surtir efeito, mas chegou ao triunfo por 1 a 0 no estádio 974 e, já classificado às oitavas, tem algo a comemorar: o surgimento de novos protagonistas, mais jovens e cheios de gás.
Com as lesões de Neymar e Danilo, Tite precisou mexer no esquema. A escolha mais controversa foi pelo substituto do lateral, pois havia grande expectativa sobre a entrada do veterano Daniel Alves, de 39 anos, um lateral mais ofensivo (construtor, nas palavras do técnico). No entanto, a escolha foi seguir a mais defensiva do titular, com a entrada do versátil zagueiro Eder Militão, que já atuou diversas vezes na função por São Paulo, Real Madrid e pela própria seleção. O atleta de 22 anos não sentiu o peso de estrear em Copas e cumpriu bem a função, ganhando todas as disputas em velocidade nas raras vezes em que a Suíça tentou contra-atacar.
O quebra-cabeça era mesmo o substituto de Neymar, e a primeira tentativa não surtiu efeito. Tite optou pelo retorno de Fred ao time titular, empurrando Paquetá mais para a frente, pelo lado esquerdo. Quando o Brasil tinha a bola, o jogador do Manchester United avançava bastante pela direita, perto de Raphinha, mas a forte marcação de Ricardo Rodríguez e Ruben Vargas dificultou a estratégia.
Raphinha foi o mais lúcido do Brasil na primeira etapa, com toques de primeira, um arremate de fora e uma bela virada de jogo que Vinicius não aproveitou. O astro do Real Madrid, que ganhou mais responsabilidades na ausência de Neymar, buscou a profundidade na primeira etapa, mas estava pouco inspirado. Paquetá, por sua vez, acertou bons passes, mas não conseguiu ser o “ritmista” que Tite buscava. Apesar de a Suíça não ter levado perigo, em alguns momentos a pressão de Fred e Paquetá, alta porém lenta, abriu espaços no meio.
Em uma decisão contestável, Tite optou por tirar Paquetá e mandar Rodrygo a campo. O time ficou mais ofensivo – e quase marcou com Richarlison –, mas também mais exposto. Quando Fred recebeu cartão amarelo, o técnico mandou a campo Bruno Guimarães, que demorou um pouco a engrenar. Aos 15, insatisfeito, Tite chamou Vini e Rodrygo para orientá-los e os jovens do Real Madrid aos poucos foram entrando no jogo.
A bola passou a chegar mais em Vini, que se tornou um verdadeiro tormento para o lateral Widmer com o que tem de melhor: o 1 x 1 em velocidade. O camisa 20 chegou a sentir o gosto de balançar as redes no Mundial, mas o lance foi invalidado por impedimento. Herói da estreia, Richarlison entregou a disposição de sempre, mas não brilhou e foi substituído por Gabriel Jesus, enquanto Raphinha deu lugar a Antony.
Eis que se deu a diferença fundamental: se antes, sem Neymar, o Brasil se ressentia de jogadores que chamassem a responsabilidade, desta vez quase todos os garotos buscaram decidir. Por ironia do destino, o gol, um golaço, foi marcado pelo atleta mais discreto, porém fundamental. Casemiro, que já havia feito uma partida impecável na estreia contra a Sérvia, avançou e foi premiado com um tento memorável em jogada com Rodrygo. Na ausência de Neymar, o camisa 5 pode ser peça de experiência que dará respaldo aos garotos da frente. Só tem de se cuidar para não levar cartões amarelos (hoje escapou) e ficar novamente de fora, como na eliminação para a Bélgica em 2018.
Apesar de Casemiro ter deixado o Real Madrid nesta temporada, o entrosamento dos tempos de capital espanhola ainda parece surtir efeito. “Jogamos muito tempo juntos ali. O Casão sempre passou muita experiência para nós. Antes de a bola chegar eu falei para ele deixar passar, aí ele deixou, e logo depois ficou livre. O normal da jogada é o cara ir nele, e eu ficar livre, mas ele ficou e eu devolvi. Ele foi muito feliz no chute. É uma jogada que fizemos por muito tempo. Ele tem qualidade de atacante”, brincou Rodrygo após a partida, em entrevista à Globo.
O Brasil terminou o jogo com 54% de posse de bola e cinco finalizações na direção do gol. Apesar da partida menos inspirada, foi novamente sólido, mantendo contra equipes europeias um padrão de rendimento apresentado durante todo o ciclo contra sul-americanos. Somando as duas partidas desta Copa, o Brasil não cedeu nenhuma grande chance ao adversário. Em contrapartida, finalizou certo 14 vezes.
Neymar ainda deve voltar e o time é certamente melhor com seu talento. Mas hoje o Brasil já tem outras estrelas. E talvez o titular mais fundamental e insubstituível do time seja mesmo o guerreiro Casemiro.