Pouco mais de dois meses depois do acidente aéreo que vitimou 71 pessoas da delegação da Chapecoense, o goleiro Jakson Follmann já está andando e tem planos para seguir no esporte. O atleta de 24 anos está em São Paulo e dá os primeiros passos no Instituto de Prótese e Órtese, o IPO, com sua nova perna biônica e a ajuda de andadores. Os objetivos são voltar a trabalhar dentro do clube, desta vez num cargo administrativo, e, quem sabe, se tornar um atleta paralímpico de alto rendimento.
“Vou procurar conhecer todas as modalidades que o meu corpo puder se adaptar mais rápido. Vou praticar a que me proporcionar maior segurança, aquela em que me sentir melhor. E quem sabe possa estar em uma Paralimpíada daqui uns anos”, afirma o cauteloso Follmann. “É preciso calma. Tem muitas coisas que quero fazer, e primeiro vou aprender e explorar minha nova condição”.
O jogador foi um dos sobreviventes com mais sequelas após a tragédia: sofreu uma amputação abaixo do joelho direito e teve de operar o tornozelo esquerdo. No hospital em Chapecó, ficou amigo de um paratleta que disputou os Jogos do Rio: Renato Leite, levantador da seleção brasileira de vôlei sentado, se comoveu com a história de Follmann e visitou o goleiro. A partir daí, os dois não pararam de trocar mensagens.
“Fiz uma amizade muito boa com o Renato, mas não conversei muito sobre a modalidade dele. Tenho curiosidade de saber quais são as opções para pessoas com próteses. Porém, agora é momento de me recuperar.” Se depender do levantador, Follmann já tem esporte certo: “Ele não gosta muito de correr e por isso quer praticar um esporte coletivo. Creio que ele deve ir para o vôlei sentado.”
Apesar de ter praticado futebol em nível profissional, tornar-se um paratleta de alto rendimento não é tarefa simples. Especialistas explicam que Follmann só teria algum tipo de vantagem se praticasse o esporte que já está habituado. Como não existe futebol para amputados nos Jogos Paralímpicos, o goleiro teria que se adaptar a uma nova modalidade. “Essa é uma das desvantagens para um atleta que teve uma deficiência tardia, mas é impossível predizer que o indivíduo não evolua com o treinamento”, explica Irineu Loturco, diretor do Núcleo de Alto Rendimento, o NAR, em São Paulo.
As habilidades adquiridas por Jakson Follmann ao longo de sua carreira como goleiro de futebol e seu biotipo de atleta pode auxiliá-lo em algumas modalidades. Ciro Winckler, coordenador de ciência do esporte do Comitê Paralímpico Brasileiro, acredita que ele poderia ser adaptar. “Ele me parece ter um perfil bom para a natação. Mas será que já teve uma experiência anterior no esporte? Para chegar no alto nível, um atleta precisa de pelo menos dez anos de treinamento. Já em esportes de cadeira de rodas, ele teria que se desenvolver com o implemento”, conta. “Pode ser interessante praticar o vôlei, pois ele já tem habilidade com a bola, tem uma característica parecida. Teria condição de evoluir”, completa Winckler.
O histórico prova que existem casos bem sucedidos de atletas que sofreram algum tipo de trauma e conseguiram se destacar no paradesporto. Bruno Landgraf atuou como goleiro nas categorias de base do São Paulo e chegou a ser convocado para as seleções brasileiras sub-17 e sub-20. Um acidente em 2006 o deixou tetraplégico e interrompeu sua carreira nos gramados. Porém, Bruno se encontrou na vela e disputou as Paralimpíadas de Londres-2012 e do Rio-2016. O piloto italiano Alessandro Zanardi conseguiu ainda mais destaque como paratleta. Zanardi, que teve que amputar parte das duas pernas após uma grave colisão em uma corrida na categoria CART, conquistou seis medalhas paralímpicas na modalidade handbike do ciclismo nas últimas duas edições dos Jogos (quatro ouros e duas pratas).
Independente de qual seja a escolha de Jakson Follmann, o Comitê Paralímpico Brasileiro está de portas abertas para receber o goleiro da Chapecoense. Renato Leite promete levar o jogador ao CT na próxima vez em que ele estiver em São Paulo.