Harry e Meghan: o passo a passo de um casamento histórico
Príncipe e atriz sobem ao altar no sábado 19; conheça as tradições e protocolos a serem seguidos — e quebrados — além de detalhes sobre a cerimônia
No dia 19 de maio, o pequeno vilarejo de Windsor, na Inglaterra, atrairá os olhos do mundo. É ali, onde foi instalado um dos principais castelos da realeza britânica no século XI, que o príncipe Harry e a atriz Meghan Markle celebrarão seu casamento. O ex-rebelde da corte fará história ao se casar com uma mulher americana, divorciada e afrodescendente — combinação inédita entre a família real, especialmente na linha direta ao trono.
Mesmo que não chegue ao posto de rei (Harry é o sexto na linha sucessória), o príncipe é um personagem importante na corte, por sua simbologia no serviço militar e ações de caridade, além de ser filho e irmão, respectivamente, dos dois próximos monarcas: Charles e William.
Harry e Meghan, aliás, serão os protagonistas do último grande casamento real nos próximos vinte anos — tempo para que os pequenos George, 4 anos, Charlotte, 3, ou o recém-nascido Louis cresçam e comecem a pensar no assunto.
Especial de VEJA explica o que esperar da cerimônia, desde os protocolos e tradições a ser seguidos até os que devem ser quebrados, passando por detalhes como decoração, buquê e convidados.
Com que roupa vamos?
A temporada dos chapéus espalhafatosos está de volta. O dress code dos casamentos reais diz que as mulheres são livres para escolher o tipo de vestido que quiserem desfilar. Contudo, todas devem usar chapéu — especialmente os modelos pomposos batizados de fascinators, muitos deles assinados pelo chapeleiro oficial da realeza, Philip Treacy, de 50 anos. Os olhares estarão voltados para as primas de Harry e William, as princesas Beatrice e Eugenie, que não perdem a chance de ousar no acessório — como o fizeram no casamento do primo herdeiro ao trono com Kate Middleton, dignos de uma Lady Gaga da realeza. Como as cerimônias costumam ser de dia, saias e vestidos na altura do joelho são mais comuns que longos. Já os homens devem usar uniforme militar ou fraque. Um terno bem alinhado também é aceito, mas raro de ser visto entre os convidados de destaque.
O dilema do vestido — e a escolha da tiara
No século XIX, a rainha Victoria estabeleceu o branco como a cor das noivas — antes, outros tons eram comuns, especialmente o dourado, que representava riqueza. O tradicional branco, contudo, é uma incerteza no caso de Meghan, a primeira divorciada a protagonizar um grande casamento oficial da realeza britânica. Camilla, duquesa da Cornualha, também divorciada, se uniu a Charles em uma cerimônia pequena, com um look azul-claro e chapéu, sem véu. A expectativa é que a atriz desfile um vestido romântico, moderno, e mais próximo da cor champanhe. Espera-se também que ela não abra mão da tradicional tiara (com ares de coroa). Ingrid Seward, especialista na realeza britânica, conta que Meghan terá acesso à coleção de joias da rainha Elizabeth II. Assim como Kate, que subiu ao altar com uma bela tiara Cartier, de 1936, cravejada com 1.000 diamantes — presente de aniversário do rei George VI à esposa, a rainha-mãe Elizabeth. Fãs de Diana, contudo, almejam que Meghan use a tiara Spencer, joia datada do século XVIII, que pertence à aristocrática família da mãe de Harry. O adereço foi usado por Diana no casamento com Charles — entre outras ocasiões especiais.
Esquema militar
Para honrar os dez anos de serviço de Harry nas Forças Armadas, 250 militares participarão do casamento em formação para receber os noivos antes e depois da cerimônia — parte da trupe acompanhará o cortejo do casal em Windsor. Harry foi membro da cavalaria de elite e, em 2017, foi condecorado como Captain General Royal Marines, alta patente entre os fuzileiros navais, título passado para ele por seu avô Philip, duque de Edimburgo. Logo, o príncipe deve usar o uniforme na cerimônia.
Damas de honra do jardim da infância
Diferentemente da tradição americana e brasileira, as noivas britânicas não são acompanhadas por madrinhas adultas, e, sim, por um grupo de damas de honra de até 12 anos, vestidas de branco. Meghan será acompanhada de seis daminhas, todas com menos de 8 anos — entre elas, está a sobrinha de Harry, Charlotte, e afilhadas dos noivos. Já entre os quatro pajens está o príncipe George, junto com afilhados e filhos de amigos do casal. Na sua vez, Kate Middleton quebrou o protocolo quando se casou: além de diminuir a idade média das meninas (suas damas tinham entre 3 e 8 anos), convidou a irmã Pippa, na época com 27 anos, para ser sua dama de honra, cargo inexistente até então na realeza. A rainha Elizabeth II, por exemplo, foi acompanhada por oito adolescentes, enquanto Diana escolheu meninas entre 5 e 17 anos para o momento.
Entre a carruagem e o carrão
Carruagens costumavam ser o transporte oficial para as noivas da realeza. Foi como Diana, por exemplo, chegou à catedral St. Paul, em Londres, em 1981. Kate, a moderna, preferiu chegar com seu pai de carro — aliás, o belo Rolls-Royce Phantom da rainha. O carrão de Elizabeth II também foi o veículo que, em 1999, levou Sophie Helen Rhys-Jones ao castelo de Windsor para se casar com o príncipe Edward, irmão mais novo de Charles. Meghan também chegará de carro, acompanhada pela mãe, Doria Ragland. A noiva, então, deveria ser conduzida ao altar pelo pai, Thomas Markle. Na quinta-feira 17, porém, a atriz divulgou um comunicado afirmando que o pai não vai comparecer ao casamento. “Eu sempre me importei com ele e espero que lhe deem o espaço necessário para que ele se concentre em sua saúde”, dizia a nota. Na última semana, Thomas se envolveu em um imbróglio com uma agência de paparazzi e a imprensa internacional. Disse que, por isso, não iria à festa para não causar constrangimento à filha e à família real. Depois, afirmou ao site TMZ que havia passado por uma cirurgia no coração e estaria impossibilitado de viajar para a Inglaterra. De acordo com comunicado do Palácio de Kensington, quem vai levar a noiva ao altar será o príncipe Charles.
Flores reais e caridosas
A florista Philippa Craddock foi a escolhida para cuidar dos arranjos decorativos do casamento. Folhagens e flores locais, que crescem no parque de Windsor, serão as eleitas. Passaram na seleção ramos de faia-europeia, bétula e carpino, combinados com rosas, peônias e dedaleiras. Até as flores entraram na agenda social do casal: após a festa, os arranjos serão distribuídos a organizações de caridade.
Os convidados
A capela de São Jorge, em Windsor, tem capacidade para 800 pessoas. A imprensa britânica afirma que 600 convites foram enviados. Como a distância entre Harry e o trono é longa, o ruivo conseguiu se livrar da obrigação de convidar figuras políticas, como a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e o presidente americano, Donald Trump. Segundo o palácio, os presentes serão pessoas próximas aos noivos — a boa desculpa para explicar por que parte da família de Meghan não tenha sido convidada, caso dos meios-irmãos, Thomas e Samantha Markle. Do outro lado, espera-se que a extensa família real britânica esteja por lá, além da realeza de outros países, como Espanha e Mônaco. Entre os representantes do show business, herança do passado de Meghan, são esperados nomes como as atrizes Priyanka Chopra e Millie Mackintosh, além do elenco de Suits, especialmente Abigail Spencer e Sarah Rafferty. A tenista Serena Williams e a cantora Victoria Beckham também são amigas da noiva e devem comparecer ao evento. Do lado de fora da igreja, mas dentro dos muros do castelo, ficarão os 2.640 convidados do casal, grupo formado por pessoas (também conhecidas como plebeus) envolvidas em projetos sociais.
A cerimônia
A família real fica sentada do lado direito da capela de São Jorge, que dará início à cerimônia a partir de meio-dia (8 horas da manhã no Brasil). O deão de Windsor vai conduzir a celebração, enquanto o Arcebispo da Cantuária, Justin Welby, autoridade da Igreja Anglicana, vai oficializar a união e reger os votos. Harry entrará na igreja com William, que acompanhará do altar todo o processo, como um padrinho — cargo inexistente na tradição real, mas requerido pelo irmão mais velho na união com Kate. Harry, agora, devolve a cortesia. Os irmãos ficam de costas enquanto esperam pela chegada da noiva, que entra na igreja acompanhada das daminhas. Ao passarem pela rainha, os príncipes e também Meghan devem fazer uma saudação especial, na entrada e na saída.
Aliança rica e optativa
Os homens da realeza britânica não são obrigados a usar aliança após o casamento. Charles, aliás, é um dos poucos a lançar mão do acessório — enquanto William diz que não se sente confortável com joias. As mulheres usam anéis feitos de ouro Welsh, metal galês considerado um dos mais valiosos do mundo por sua raridade — pode valer até dez vezes mais que uma peça de ouro de outras regiões, como a África do Sul. A tradição foi outra implementada pela rainha-mãe Elizabeth, que ganhou a aliança de ouro Welsh no casamento com George VI, em 1923.
Para onde vai o buquê?
Além do vestido, a rainha Victoria está presente em outra tradição. Quando se casou com o príncipe Albert, em 1840, Victoria carregou um buquê com flores de murta — planta ligada a Afrodite, a deusa do amor na mitologia grega. A rainha, então, cultivou a flor no jardim de Osborne House, uma das residências da realeza. Até os dias de hoje, toda noiva da família desfila buquês com ramos da mesma planta. Outra tradição ligada ao ramalhete é o destino do adereço. No dia seguinte, ele é colocado sobre o túmulo em homenagem ao Soldado Desconhecido, na Abadia de Westminster. A tradição foi iniciada pela rainha-mãe Elizabeth, em 1923, e seguida pela rainha Elizabeth II e Kate.
O cortejo entre o povo
Está marcado para as 13 horas da Inglaterra (9 horas no Brasil) o início do cortejo que vai mostrar ao público, pela primeira vez, Harry e Meghan casados. Uma carruagem conduzirá o casal pelo vilarejo de Windsor. Eles sairão do castelo pela Castle Hill e seguirão pelo contorno da cidade até voltar à entrada principal do palácio, pela Long Walk. O trajeto, de cerca de 5 quilômetros, deve durar 25 minutos.
Bolo natureba
Um bolo real deve ter muitos andares. O de Kate e William ostentava oito camadas. A tradição também pede que o sabor principal de um dos bolos seja de fruta. Meghan e Harry escolheram para cumprir a tarefa a confeiteira americana Claire Ptak, dona da loja Violet Bakery, em Londres. Descolada, a chefe se destaca por adotar apenas ingredientes orgânicos, além de um traço rústico para os doces, que ganham decoração de flores de verdade. Em seu comunicado de agradecimento pela escolha, Claire ressaltou que será ótimo fazer o bolo do casal, que divide com ela os mesmos valores sobre sustentabilidade. O sabor será limão, e a decoração contará com glacê e flores frescas.
Festa comportada
Harry, o festeiro oficial da família, deve se divertir dentro dos limites na comemoração pós-cerimônia. Para começar, seguindo a tradição, a rainha oferecerá um almoço logo após o casamento no Hall de São Jorge, principal e maior cômodo do Castelo de Windsor. À noite, o casal e mais 200 convidados seguem para a Frogmore House, residência de campo da realeza, localizada a 2,5 quilômetros do castelo. A casa do século XVII fica no meio de um parque, afastado da cidade, e serve basicamente para sediar eventos da família. Segundo divulgou o Palácio de Kensington, o príncipe Charles será o responsável por oferecer a festa — papel que ele já desempenhou no casamento de William e Kate.
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Ilustrações: Lezio Júnior