Apuração do desfile de SP é interrompida após confusão
Torcedores invadem área de organização e rasgam cédulas. Do lado de fora do Sambódromo, tentam depredar áreas próximas ao Anhembi
A apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo, realizada no Sambódromo do Anhembi, na Zona Norte da capital, foi interrompida por volta das 17h35 depois que torcedores invadiram a área de organização (onde era feita a leitura das notas), rasgaram cédulas de votação dos jurados e provocaram correria e muita confusão. A Polícia Militar interveio e expulsou parte das torcidas do Anhembi.
Segundo imagens da TV, o primeiro a invadir a área reservada à organização da apuração foi um membro da Império da Casa Verde. Após saltar sobre cavaletes de proteção e pegar as cédulas, correu em fuga, colocando as cédulas dentro da calça. Em seguida, integrantes e torcedores de outras agremiações também invadiram a área: alguns lançavam as cédulas dos jurados para o alto.
Autores – O primeiro invasor já foi identificado. Segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, da Deatur, ele é Tiago Ciro Tadeu Faria, de 29 anos, da Império da Casa Verde. Ele estava na área reservada a diretores das escolas e aproveitou um momento em que os policiais tentavam controlar membros exaltados que empurravam as grades de proteção para invadir. Outro detido na confusão é da Gaviões da Fiel: Cauê Santos Ferreira, de 20 anos.
Crimes – Segundo o advogado Romualdo Calvo Filho, presidente da Academia Paulista de Direito Criminal, Faria deve ser enquadrado por furto, crime com pena de um a quatro anos, além de multa. O fato de ele ter rasgado as cédulas com as notas que faltavam ser lidas na apuração e de sua ação ter contribuído para a confusão que se instalou no Sambódromo, com briga e tumulto, não representa um agravante. O ato pode, no entanto, influenciar a decisão do juiz que determinará a extensão da pena. “O Carnaval é um evento de grande projeção. Uma festa popular, folclórica, acompanhada por todos os brasileiros, que ele estorvou”, diz Calvo Filho.
De acordo com o delegado Nico Gonçalves, Tiago será enquadrado por supressão de documento. No Código Penal, a infração pode implicar pena de dois a seis anos, com multa, se o documento for considerado público. O outro preso nesta terça-feira, Cauê Santos Ferreira, torcedor da Gaviões, deve ser autuado por danos ao patrimônio público. Os dois estão presos e vão passar a noite na delegacia do próprio Anhembi. “Não sei o juiz vai soltá-los amanhã, mas eles dormirão na cadeia”, afirma o delegado.
Confusão – Do lado de fora do Sambódromo, a confusão continuou por algumas horas. Dispersos pela pista local da Marginal Tietê, ao lado do Sambódromo, torcedores da Gaviões da Fiel colocaram cavaletes na pista. Eles também tentaram depredar a proteção de metal que serve de muro para o estacionamento do Anhembi, onde estão estacionados os carros alegóricos das escolas de samba. Uma das alegorias pegou fogo. Integrantes da escola de samba Pérola Negra afirmam que a estrutura lhes pertencia e que o ato de vandalismo teria sido feito por membros da Gaviões. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, três viaturas foram enviadas para o local e o incêncio foi controlado.
Apesar da confusão, o presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Paulo Sérgio Ferreira, afirmou que a apuração continuaria de onde parou. No momento em que a confusão teve início, era feita a leitura do último quesito da avaliação do desfile: comissão de frente. A Mocidade Alegre liderava, com 170 pontos. Se recebesse mais uma nota máxima, conquistaria o título.
Se comprovada a participação de representantes das escolas na confusão, o episódio pode, em tese, terminar em penalidade para as agremiações. De acordo com o regulamento dos desfiles do grupo especial: “Comportamento inadequado por parte de qualquer Dirigente ou Representante da Escola de Samba, devidamente identificado, na concentração, dispersão, durante o desfile ou na apuração, no sentido de pressionar, ameaçar ou agredir a integridade física ou moral de algum membro da organização, LIGA, comissões, jurados, componentes da própria ou de outra agremiação, ou, ainda, os prepostos e empregados da São Paulo Turismo. No caso de comprovação de tal comportamento, a Escola de Samba será sumariamente eliminada do concurso, com a consequente desfiliação, bem como, conforme o caso sofrerá, ainda, as sanções previstas no Estatuto Social.”