À medida que os 36 milhões de alunos da rede pública vão retornando às salas de aula, os educadores começam a se deparar com o quadro de aprendizagem durante a pandemia. Em que pese o enorme esforço realizado pelas secretarias de educação Brasil à fora para oferecer conteúdo de qualidade no modelo remoto, o que se vê, na prática, é o perigo real de defasagem e de evasão escolar. Uma pequisa realizada pelo Datafolha, encomendada pela fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, com 1.015 pais de estudantes das escolas públicas, mostra um enorme receio de que seus filhos fiquem para trás, após um ano de afastamento.
O prejuízo maior está nas duas pontas, ou seja, os anos iniciais e finais dos ciclos da educação básica. Para 65% dos entrevistados, as crianças da pré-escola terão o desenvolvimento comprometido, enquanto 69% dizem que os estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental devem enfrentar atraso no processo de alfabetização. Em relação aos adolescentes, 58% acreditam que eles terão problemas emocionais por causa do isolamento e 58% temem que os alunos do ensino médio desistam dos estudos.
“Haverá perdas significativas para esses alunos e para o próprio país, em termos de renda e produtividade. Corremos o risco de ter uma geração inteira comprometida”, diz camila Pereira, diretora de educação da Fundação Lemann. Um estudo realizado pelo Insper mostra que o impacto do fechamento das escolas durante a pandemia pode chegar a impressionantes 23% do PIB. Na pandemia, a renda diminuiu para 47% dos entrevistados.
Diante do quadro, começa a haver mais apoio à reabertura das escolas num país que deixou as salas de aula fechada, enquanto permitia a atividade de shoppings, bares e restaurantes. Entre setembro e novembro de 2020, o índice de pais e responsáveis favoráveis ao retorno das aulas presenciais subiu de 24% para 30%. Por outro lado, a pesquisa revela que os pais temem a Covid-19: 49% não têm confiança na capacidade da escola de se adequar às normas sanitárias e 43% não confiam que os estudantes irão cumprir os protocolos.
No campo educacional, o desafio é mitigar o quadro com atividades diagnósticas, aulas de reforço, priorização de português e matemática no currículo, aceleração de aprendizagem e busca ativa de alunos para evitar evasão. Um receituário conhecido, mas nem sempre simples de ser implementado. “Acompanhamos 50 redes estaduais e municipais de ensino e vimos um esforço grande para que isso ocorra”, diz Camila Pereira, que destaca a existência de ferramentas digitais que podem auxiliar nesse processo. “O fundamental nesse momento é priorizarmos a educação. As escolas têm de ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir”, diz.