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“Venci em um universo masculino”

Única brasileira a competir na olimpíada global de informática, Carolina Moura, 17, conta como chegou ao MIT

Por Duda Monteiro de Barros 24 abr 2022, 08h00
Carolina Moura -
Carolina Moura – (./Arquivo pessoal)

Desde muito pequena, me inscrevo em concursos de redação e matemática. Sempre gostei de me jogar em situações de desafio, quando você sente que está queimando os neurônios e vai ao limite. Mas a inspiração para entrar de cabeça no mundo das competições veio mesmo da observação da trajetória do meu irmão mais velho, que participou da Olimpíada Brasileira de Informática e foi premiado com uma viagem. Eu tinha 10 anos na época e achei aquele reconhecimento o máximo. Queria esse caminho para mim. E comecei a estudar para valer e a ter contato com a beleza da matemática real, diferente da decoreba que aprendemos no colégio. A coisa foi ficando séria e, às vésperas do ensino médio, decidi que mudaria de escola para poder me preparar melhor. Morava em Itu com minha família e tive de convencer meus pais a me deixarem ir para São Paulo, onde teria acesso a uma educação voltada para desenvolver habilidades essenciais. Eles resistiram. Pedi até para o diretor ligar para minha mãe, explicando como eu me beneficiaria da mudança. E deu certo.

Em 2015, participei das Olimpíadas de Informática pela primeira vez, mas não obtive boa colocação. Decidi então virar o jogo e não parei mais de estudar. Nos anos seguintes, levei três pratas e quatro ouros. Foi aí que, em 2019, veio o que tanto esperava: fui chamada para a rodada classificatória da grande competição global. Depois de uma maratona de avaliações e altas doses de ansiedade, passei. E assim me tornei a primeira e única menina brasileira a participar de uma Olimpíada Internacional de Informática, que existe há mais de duas décadas e é, até hoje, um mundo dominado por meninos. Ganhei medalhas de bronze em 2020 e 2021. Com a pandemia, os torneios, que seriam em Singapura e no Egito, foram realizados a distância. Nunca me desmotivei, ao contrário. Esse ano, o campeonato será na Tailândia e me sinto preparada para subir no pódio com uma prata, quem sabe um ouro.

As ciências exatas continuam sendo um território majoritariamente masculino. Os meninos têm desde cedo a criatividade muito mais estimulada para essas áreas, inclusive nos jogos e brincadeiras. Acredito que minha presença nesses ambientes cheios de homens seja por si só uma demarcação de terreno e possa abrir espaço para outras de nós. Às vezes, me pergunto se sou menos ouvida, se sou alvo de alguma espécie de preconceito. Na verdade, isso se revela, sim, em atitudes sutis, quase invisíveis, que me fazem sentir que estão duvidando da minha capacidade. No início, sofria com a falta de mais jovens mulheres no campo da matemática e da tecnologia nas quais me inspirar. Tenho um projeto com uma amiga de oferecermos cursos para meninas, justamente para incentivar uma nova geração que acredite ser possível chegar aonde quiser, com direito a muitos pódios e medalhas.

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Meus professores me deram força para tentar entrar em uma universidade americana e me engajei em longos processos de admissão: provas de inglês, cartas de recomendação, mais de trinta redações. Queria muito ser aprovada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, e consegui. Quando recebi a notícia, emocionada, pensei: valeu muito a pena. Ganhei uma boa bolsa e me mudo para lá em quatro meses. Nas faculdades dos Estados Unidos, só se escolhe a área específica de estudos depois de um ano. Tenho 99% de certeza de que vou continuar nas ciências da computação. Quero a carreira acadêmica para tentar contribuir com a expansão do conhecimento. Quem sabe um dia faço uma descoberta realmente importante, que valha um Nobel, como já ocorreu com uma centena de alunos do MIT. Sei que é difícil, duríssimo, mas tudo pode acontecer quando você agarra um sonho e não larga dele.

Carolina Moura em depoimento dado a Duda Monteiro de Barros

Publicado em VEJA de 27 de abril de 2022, edição nº 2786

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