Após se formar em musicoterapia na FMU, num curso presencial, Christiane Trotta, 36 anos, optou por uma segunda graduação em pedagogia, na Unip Interativa, desta vez a distância. Sentiu a diferença.
“Nunca tinha feito nada a distância, nem tutorial de maquiagem. Escolhi uma faculdade pioneira em EAD. A independência de assistir às aulas e de fazer os exercícios quando e onde fosse foi a melhor parte. Por outro lado, tive dificuldade de me organizar para ser ‘autodidata’ e senti tudo muito impessoal. O rico em uma aula é a troca entre as pessoas, a troca de ideias, principalmente em um curso como pedagogia, em que assuntos como ética, filosofia e sociologia fazem parte do currículo”, afirma ela, que levou cinco anos para concluir o curso, incluindo os períodos de estágio e o TCC, e não pretende repetir a experiência.
Cursos semipresenciais podem ser opção para alunos que não se adaptam ao formato apenas online. Neles, os alunos continuam estudando e assistindo às aulas em ambientes virtuais, mas combinam essa experiência com vivências em salas e laboratórios.
De acordo com profissionais que trabalham com educação superior a distância, esse pode ser o futuro do ensino. Os especialistas acreditam que a mistura de ferramentas tecnológicas com atividades presenciais, que ganhou força no Brasil desde 2005, irá nortear a formação dos estudantes brasileiros nos próximos anos.
Eles afirmam que, se bem estruturado, o curso híbrido pode ajudar o estudante aproveitar o melhor das duas modalidades. O ensino 100% a distância apresenta uma certa limitação na interação dos alunos com os professores, com os colegas e com todo o ambiente acadêmico da universidade, além de ser insuficiente para algumas disciplinas que pedem atividades práticas e de laboratório, como nas áreas de engenharia e saúde. Já o estudo apenas presencial pode não demandar tanta dedicação à pesquisa, desenvolvimento de autonomia e participação ativa no processo de aprendizado, habilidades hoje vistas como essenciais no mercado de trabalho e que norteiam a nova Base Nacional Comum Curricular, documento que irá nortear a educação brasileira do infantil ao ensino médio.
“[Nos cursos híbridos] A tecnologia é usada para preparação do conhecimento, e o ambiente físico, para a experiência educacional, para a discussão e para a interação social, que faz parte do processo de formação do cidadão”, diz Carlos Longo, diretor da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) e pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo. “Muitos alunos ainda não entenderam que educação serve para você adquirir conhecimento e não apenas para passar na prova. Esse formato ajuda a desenvolver habilidades importantes para o estudante”, completa.
A ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) é uma das faculdades que investem nessa categoria e criou o primeiro master do país em neurociência do consumidor no formato blended learning (aprendizado híbrido, em tradução livre do inglês). Além de atividades a distância com a flexibilidade de horários que o EAD oferece, os alunos participam de encontros presenciais simultaneamente realizados nas três unidades da instituição (São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre).
Os alunos estudam a fundamentação teórica por conta própria, por meio de aulas, vídeos e pesquisas online e discutem e aprofundam aquele arcabouço teórico nos encontros presenciais, tendo o professor como um tutor que conduz o processo.
“Nosso programa de blended learning propõe representar o que acontece no dia a dia das pessoas. Nosso ambiente é híbrido, não separa mais online e offline, existe uma conexão entre eles. As atividades presenciais não são uma repetição do que o aluno viu a distância, são uma oportunidade de aprofundamento e vivência da teoria apreendida online”, diz Tatsuo Iwata, pró-reitor de pós-graduação lato sensu e educação continuada da ESPM.
O hibridismo pode ajudar a aumentar a oferta e a aceitação de cursos a distância na área de saúde que, segundo especialistas, ainda vê com ressalvas essa modalidade por conta da necessidade de vivências práticas e laboratoriais.
“A tecnologia pode ser usada principalmente para partes teóricas e para pesquisa. O aluno pode usar um simulador 3D para conhecer órgãos do corpo, por exemplo, e quando vai para a parte prática já tem noção do que vai tratado. É uma ignorância achar que a parte prática será excluída”, diz Carlos Longo.