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O contratante valoriza quem se formou a distância?

Segundo especialistas e empregadores, já não há preconceito com quem não optou pelo ensino presencial, mas em algumas áreas, ainda há ressalvas

Por Mariana Lajolo
Atualizado em 5 abr 2019, 21h45 - Publicado em 20 jul 2018, 06h00

Os diplomas são exatamente iguais. Não importa se o aluno passou anos se deslocando até a faculdade para assistir às aulas ou se estudou pela internet, no computador de casa ou no celular enquanto enfrentava o trânsito, a formação em cursos presenciais ou a distância têm o mesmo valor.

Na maioria dos casos, o mercado de trabalho já não faz distinção entre as duas modalidades de aprendizado. Para ganhar um emprego, o candidato tem que ser competente e formado por uma boa instituição de ensino, mesmo que a distância. Essa é a avaliação de especialistas em educação, empregadores e empregados ouvidos pela reportagem.

César Arcanjo, 32 anos, é um exemplo. Formado em turismo em 2007, queria continuar a estudar, mas além de não se identificar com nenhuma pós-graduação, não enxergava meios de encaixar as aulas em sua rotina atribulada. Quando encontrou o curso ideal na versão a distância, ganhou um incentivo a mais: a empresa em que trabalha oferece ajuda financeira aos funcionários que querem se aperfeiçoar. O método escolhido não importa.

“Vejo o mercado aceitando completamente o EAD. A vida é muito corrida atualmente, e estamos completamente inseridos nesse contexto de uso da internet”, afirma o aluno de um MBA em gestão de negócios no Ibmec.

Sua visão é corroborada por Gabriel Barreiros, COO da Argo Solutions, empresa em que Arcanjo trabalha e que tem uma plataforma própria de EAD para capacitação de profissionais.

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“Temos uma política interna de incentivo ao colaborador para que ele continue estudando. Antes, havia um conservadorismo em relação ao EAD, hoje vemos que ele pede um comprometimento do profissional de assistir às aulas, ser engajado. Existem grandes instituições com plataformas interessantes para cursos a distância. O mais importante é a qualidade do curso feito, não o formato”, diz o executivo.

As ferramentas de educação a distância são usadas por muitas empresas para treinar e aprimorar os conhecimentos de seus funcionários de forma eficiente e menos custosa. Na Avery Dennison, empresa de tecnologias adesivas, displays gráficos e materiais de embalagem, essa foi a solução para desenvolver programas para filiais do mundo todo, inclusive com parcerias com instituições renomadas como a Harvard. Um deles, o Women Empowered, trabalha questões relacionadas a mulheres em posições de liderança e envolve discussões online. É acompanhado por 150 funcionárias durante o ano todo.

Com EAD no dia a dia da empresa, o diploma dos funcionários dessa modalidade de ensino também tende a ser bem aceito pelo RH.

“Claro que, dependendo da área e do estilo, um gestor pode ter opinião diferente. Mas olhando para o universo da empresa, vemos que a tecnologia vem para facilitar dia a dia, principalmente nas grandes cidades. Ainda se tem a falsa impressão de que EAD vai ser mais fácil, mas um bom curso vai exigir mais de cada indivíduo”, diz Tatiane Stefan, gerente de Desenvolvimento Organizacional América Latina da Avery Dennison.

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“Como instituições reconhecidas passaram a oferecer EAD, esse preconceito (do mercado) diminuiu e se percebeu que não é a modalidade a responsável pela baixa qualidade no ensino superior e sim a oferta indiscriminada, seja presencial ou a distância. Tempos atrás, os concursos públicos para professores faziam restrição aos formados em EAD. Isso nunca mais se repetiu”, relembra Maria Alice Carraturi Pereira, ex-presidente da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp).

Segundo a professora, o mercado percebe e valoriza no aluno formado a distância habilidades e competências diferentes daquelas desenvolvidas pelo estudante formado no sistema tradicional, como autonomia, domínio da tecnologia, auto-empreendedorismo e comunicação.

A aceitação, no entanto, não é unânime. Em algumas áreas, os estudos online ainda são vistos com ressalvas. Segundo especialistas em educação, a da saúde é a principal delas, especialmente por conta da alta demanda de atividades práticas de algumas disciplinas.

“Algumas áreas de conhecimento têm bastante dificuldade de aceitar as possibilidades que o EAD pode oferecer, como aquelas que exigem cuidado com o paciente. Há cursos que podem ser bem trabalhados a distância e os contatos, a parte prática, feita de forma presencial. Mas há áreas que não aceitam isso”, diz Lovois Miguel, secretário de educação a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Formada em educação física, Renata França, 32 anos, começou a estudar nutrição em um curso semipresencial, melhor opção para dar conta dos estudos e do trabalho como personal trainer e instrutora de musculação e ginástica. Ela ainda não se formou, mas sente alguma relutância no mercado.

“Pelo fato de ser um curso que precisa de aulas em laboratório, de ser na área da saúde, há faculdades que nem oferecem essa modalidade. Mas aí é que entra nossa oportunidade de mostrar que temos a mesma capacidade de quem se forma em um curso presencial”, afirma.

Mestrado e doutorado

Segundo especialistas em EAD, o mercado é menos preconceituoso do que a academia. Professores enxergam resistência a algumas modalidades de cursos online nas universidades. Mestrado e Doutorado, por exemplo, praticamente não existem.

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Carlos Longo, diretor da Associação Brasileira de Educação à Distância (Abed) e pró-reitor acadêmico da Universidade Positivo, ressalta que quase não há reconhecimento de mestrados e doutorados (pós-graduação stricto sensu) a distância no país, mas a universidade de Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) oferecerem esse tipo de formação com parte dos estudos online.

“Existe um pouco de preconceito. No mundo, já existem cursos desse tipo a distância. Seria muito melhor para um país da nossa dimensão ter mestrados e doutorados híbridos. Os professores, por exemplo, poderiam se qualificar melhor inclusive para dar aulas”, afirma.

Esses cursos de pós-graduação stricto sensu no Brasil só são válidos se tiverem reconhecimento da Capes. Atualmente, as alternativas a distância com diploma válido são apenas os integrantes do Proeb (Programas de Mestrado Profissional para Qualificação de Professores da Rede Pública de Educação Básica), realizados de forma semipresencial.

O Conselho Nacional de Educação já se manifestou pela possibilidade de serem criados cursos de pós-graduação stricto sensu no EAD. “Há a necessidade de se formular uma regulamentação para implementar a medida. A Capes vai promover o debate sobre a questão”, informou a assessoria de imprensa da entidade, por email.

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A Universidade Federal de Lavras (Ufla), uma das instituições que oferecem EAD mais bem avaliadas pelo MEC, integra o programa de qualificação de professores por meio do Profmat, que oferece mestrado em matemática pelo Proeb. Os cursos são semipresenciais.

O coordenador adjunto do Profmat em Lavras, professor Helvecio Geovani Fargnoli Filho, acredita que é possível oferecer bons mestrados e doutorados de forma híbrida.

“O desenvolvimento da pesquisa e da dissertação ou da tese é um ponto essencial no mestrado e no doutorado. E, em geral, isso é favorecido pela modalidade presencial devido ao contato direto com o orientador e com outros pesquisadores. Acredito que é um tipo de curso que não pode ser 100% a distância. Mas, acho que, em algumas áreas, uma parte do curso, como algumas disciplinas, pode ser”, diz.

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