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São Paulo declara guerra às drogas nas escolas

Novo secretário estadual de Saúde propõe parceria com pasta de Educação, para combater uso de substâncias por estudantes

Por Carolina Farina Atualizado em 24 Maio 2016, 17h06 - Publicado em 13 jan 2011, 06h31

“A bebida alcoólica, ao contrário das drogas ilícitas, é socialmente aceita. Aí, reside o perigo.” – Giovanni Cerri, secretário de Saúde de São Paulo

As drogas são um perigo que ronda as escolas brasileiras – e o álcool é uma ameaça que não pode ser subestimada. Segundo pesquisa realizada em 2010 pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas com alunos do ciclo básico, 62,1% das meninas e 58,9% dos garotos afirmaram já ter consumido alguma bebida alcoólica ao menos uma vez. “A bebida alcoólica, ao contrário das drogas ilícitas, é socialmente aceita. Aí, reside o perigo”, afirma o médico radiologista Giovanni Cerri, recém-empossado no cargo de secretário estadual de Saúde de São Paulo. De olho no problema, ele promete uma guerra contra as drogas nas escolas. A primeira estratégia de batalha será firmar uma parceria, ainda neste mês, para ação conjunta com a Secretaria de Educação – que, afinal, é quem lida diariamente com os estudantes. “O tratamento é fundamental, mas igualmente importante é a prevenção”, diz o secretário. Confira a seguir a entrevista que ele concedeu ao site de VEJA sobre a questão.

De que maneira a Secretaria de Saúde pretende iniciar sua cruzada antidrogas nas escolas? Vamos, agora em janeiro, começar a conversar com a Secretaria de Estado da Educação. E também pretendemos entrar em contato com as entidades representantes das escolas particulares. A ideia é discutir o desenvolvimento de campanhas educativas para os estudantes, com o imprescindível apoio dos professores e diretores de ensino. O objetivo é alertar esses jovens quanto aos riscos envolvidos no consumo de álcool e outras drogas, além de torná-los agentes multiplicadores dessa mensagem, fazendo com que transmitam essas informações a familiares e amigos.

O senhor já tem em mente alguma ação? A proposta é agir de forma preventiva, utilizando a educação como ferramenta essencial. Há uma experiência muito boa, desenvolvida na favela de Heliópolis (na zona Sul da capital) que pretendemos aperfeiçoar e expandir. Os jovens foram treinados por especialistas em saúde pública para falar aos demais moradores sobre os perigos da dependência química. É uma ideia simples, mas interessante e eficaz na área de prevenção e promoção de saúde.

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Como se dará a parceria com a Secretaria de Educação? A ideia inicial é disponibilizar os técnicos da Saúde, além de médicos do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, para atuar com estudantes, seja por intermédio de videoconferências, palestras, capacitação ou mesmo dinâmicas de grupo. Temos uma instituição de referência no centro da capital: o Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod). Ele possui profissionais aptos a percorrer escolas e universidades para realizar testes de dependência, orientar e encaminhar alunos para tratamento. Do mesmo modo, temos uma equipe de Saúde do Adolescente com grande experiência na assistência aos jovens. A partir desses elementos vamos criar uma agenda, visando disseminar a mensagem contra o álcool por todo o estado.

Por que a Secretaria da Saúde decidiu assumir essa tarefa só agora? A prevenção e promoção de saúde são preocupações essenciais do Sistema Único de Saúde (SUS), pois evitam o surgimento e agravamento das doenças. A gestão anterior teve como foco a prevenção ao fumo passivo, com a Lei Antifumo, e também deu os primeiros passos para a implantação de clínicas e contratação de leitos de internação para dependentes químicos. Uma dessas clínicas é especializada no atendimento de adolescentes entre 14 e 18 anos de idade. O tratamento é fundamental, mas igualmente importante é a prevenção. O jovem, muitas vezes, começa a beber pela insegurança natural da idade e necessidade de autoafirmação. É fundamental falar com esses estudantes. Especialmente em relação ao álcool, que é um problema generalizado e uma bomba de efeito retardado. A bebida alcoólica, ao contrário das drogas ilícitas, é socialmente aceita. Aí reside o perigo. O consumo excessivo leva à dependência e é fonte de doenças como diabetes, hipertensão e câncer, além de provocar casos de violência doméstica e acidentes de trânsito.

O governo conhece a dimensão do problema com que vai lidar? A partir das conversas iniciais que teremos com a Secretaria de Educação e com as entidades representantes das escolas particulares pretendemos fazer um mapeamento mais detalhado do uso de álcool e de drogas pelos alunos. Também vamos utilizar pesquisas e estudos já existentes para nortear o trabalho. Mas o fato é que o problema existe é deve ser enfrentado urgentemente.

Qual o percentual de alunos paulistas que fazem uso de drogas? E de álcool? Há pesquisas de universidades paulistas, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que apontam a gravidade do problema. Um levantamento recente mostrou que em torno de 30% dos adolescentes já haviam consumido álcool ao menos uma vez na vida. Já os que o fizeram nos 12 meses anteriores à pesquisa somam 12% e, nos três meses anteriores, 5%. São índices altíssimos, uma vez que para adolescentes o consumo de álcool deve ser zero. Não se pode tolerar a ingestão de bebidas alcoólicas entre jovens menores de 18 anos. O alcoolismo é uma das principais causas de morte evitável, segundo a Organização Mundial de Saúde. E, pelo fato de ser uma substância psicoativa lícita, seu acesso é facilitado, inclusive sob o ponto de vista econômico. Uma dose de pinga, por exemplo, por vezes custa menos de 1 real.

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Qual o tipo de droga mais comum nas escolas do estado? Depois do álcool e do cigarro, que são substâncias lícitas, as drogas mais usadas por adolescentes do ensino médio são, pela ordem, a maconha e os inalantes.

Como capacitar os professores para lidar com o problema das drogas? A abordagem ao usuário de droga e álcool é uma questão delicada, inclusive dentro das próprias famílias. Mas os professores podem ser, sim, agentes do processo de prevenção e alerta junto aos adolescentes. Julgamos fundamental haver estreita parceria entre os docentes e os profissionais de saúde que lidam com este problema no dia a dia.

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