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Pisa 2018: o Brasil está na turma do fundão. De novo

Resultados da avaliação internacional mostram que os brasileiros estão paralisados no mau ensino – e quem mais sofre são os mais pobres

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 3 dez 2019, 11h02 - Publicado em 3 dez 2019, 07h30

43% dos estudantes brasileiros não consegue comparar a distância entre duas rotas distintas em um mapa (uma simples operação básica de matemática) ou identificar a ideia central de um texto de nível médio. Este é um dos resultados aterradores – e nada surpreendentes – do Pisa 2018, a principal avaliação internacional do ensino, cujos resultados foram divulgados na manhã desta terça-feira, 3. Realizada por 600.000 alunos entre 15 e 16 anos de 79 países no final do ano passado, o exame testa o desempenho dos alunos em matemática, ciências e leitura. Apesar de a média dos países da OCDE – a responsável pela prova – não ter variado muito nas últimas avaliações, a permanência do Brasil na lanterninha do ranking (encabeçado pela China) é motivo de preocupação: o país subiu duas posições na avaliação de leitura, de 59º para 57º lugar; escorregou em ciências, de 63º para 66º; e tropeçou da 65ª para a 70ª posição em matemática (ver rankings).

O pequeno avanço na pontuação absoluta de cada disciplina não é motivo de comemoração para presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira. “Em uma escala que vai de 350 a 500, variações de cinco ou seis pontos devem ser lidos como um fenômeno estatístico, e não como um aumento real”, explica o especialista. Em leitura, por exemplo, os brasileiros atingiram a média de 407 pontos – apenas seis a mais do que em 2015. Entre os países mais desenvolvidos do mundo, a média é de 487 pontos. Também nesta disciplina, apenas metade dos estudantes atingiu o nível dois da escala de zero a sete utilizada pela OCDE; o patamar que garante um mínimo de proficiência no assunto.

Como se não bastasse a presença maciça no pelotão de trás, os alunos brasileiros são escassos no topo da pirâmide: apenas 2% dos estudantes alcançaram os níveis cinco ou seis em uma das matérias; contra uma média de 16% nos países desenvolvidos. Trocando em miúdos: temos poucos excelentes alunos – e eles estão entre os mais ricos. Outro desafio a ser enfrentado pelo país, de acordo com o relatório, é o aprofundamento da desigualdade escolar relacionada quando associada à condição socioeconômica dos estudantes. A diferença entre os resultados de matemática e ciências entre os alunos mais pobres e aqueles provenientes de famílias mais abastadas foi de 97 pontos, contra 84 registrados em 2009 (a última vez em que este cálculo foi feito). “Esta diferença rouba dos mais pobres a única oportunidade que têm de competir com os mais ricos. Estes meninos vão entrar no mercado de trabalho daqui a alguns anos e a diferença será sensível”, ressalta o economista Guilherme Hirata, da consultoria Idados.

O documento divulgado pela OCDE também aponta para um problema latente no Brasil: entre as classes mais baixas, 17% dos brasileiros estuda em uma escola cujos gestores alegam que o aprendizado é comprometido principalmente pela falta de professores. Entre os mais ricos, este grupo representa 8%. “O primeiro dever de casa a ser feito para melhorar este cenário é tornar a carreira docente mais atrativa”, diz a especialista Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas; para quem a nova base para formação de professores, promulgada pelo Conselho Nacional de Educação, pode ser um avanço nesse aspecto. “Os estudantes de medicina pisam em hospitais desde o primeiro período, o que garante uma formação conectada com a realidade. Com os professores, não pode ser diferente”, reforça.

O relatório também contemplou a questão da disciplina nas salas de aula do Brasil e do mundo. Por aqui, 41% dos alunos relataram que seus professores têm dificuldade para manter a turma em silêncio na hora da aula; e os estudantes que reportaram este tipo de problema obtiveram cerca de 19 pontos a menos do que os afirmaram não passar por esta situação. Para a presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o exemplo dos países que tiram nota 10 é crucial para a criação de boas políticas públicas neste sentido. “Ninguém está falando em militarizar as escolas nem criar canais de denúncia de pais contra professores”, diz a especialista, que cita os casos de Portugal e do Peru. “São lugares onde se investiu pesado na gestão da sala de aula, com foco na capacitação do professor”, completa.

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Se, por um lado, os resultados brasileiros estão longe de serem positivos, por outro, há quem aposte em um futuro promissor. “Algumas das principais medidas para que o país comece a caminhar rumo à excelência foram aprovadas no ano passado e, com o apoio do poder público e da sociedade civil, podem dar resultado nas próximas avaliações”, explica Cláudia; apostando nos novos currículos estaduais recriados à luz da nova Base Nacional Comum Curricular, que entra em vigor a partir do ano que vem, e nas resoluções do CNE para a formação docente. Resta saber, contudo, como se dará a articulação entre estas esferas a partir do ano que vem. Tirar o Brasil da lanterninha do ensino é lição de casa para gente grande.

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