Passados três meses e meio desde o início pandemia do novo coronavírus, que tirou das carteiras escolares milhões de alunos no Brasil, estados e municípios se preparam para a tão aguardada retomada das aulas presenciais. Em São Paulo a volta deve acontecer em setembro, como anunciou o secretário estadual de Educação Rossieli Soares, já no Rio de Janeiro e em outras capitais ainda não foi definida uma data para o retorno, antes previsto para agosto. Mas, se de um lado sobram incertezas por parte dos estudantes, pais e professores quanto ao conteúdo assimilado neste período, por outro, a maioria concorda que o ensino híbrido veio para ficar. Enquanto os portões dos colégios estão fechados ganham espaço as plataformas de ensino online, como a Plurall, da Somos Educação, que hoje reúne 1,3 milhão de alunos em seu ambiente virtual de 4 mil escolas privadas – antes da pandemia cerca de 400 mil estudantes eram atendidos.
A plataforma foi criada em 2013 como uma ferramenta de apoio pós-aula para as turmas de ensino médio e o segundo segmento do Ensino Fundamental. De olho nesse mercado, a Somos investiu 42 milhões de reais na plataforma entre 2017 e 2019 – a empresa não abre números deste ano. Uma semana depois do início da quarentena as aulas online começaram a ser ministradas e o volume de dados na Plurall cresceu cerca de 47 milhões por cento. “O crescimento desse índice mostra que os professores estão usando a plataforma para mandar provas e listas de exercícios que são feitos pelos alunos. Desde que as escolas fecharam cada aluno fez 2500 tarefas e ficou cinco horas online por dia, em média, sendo três horas assistindo aula e duas horas fazendo atividades, entre games, simulados e exercícios”, explica Mario Ghio, diretor presidente da Somos Educação. “Achamos que seria um esforço de 30 dias, mas hoje ninguém tem dúvidas de que iremos até dezembro”, completa Ghio.
Para as aulas de biologia e química, a companhia fechou uma parceria com o CloudLabs, que foi incorporada ao Plurall. Agora, os alunos poderão fazer as simulações dos experimentos no ambiente totalmente gamificado. Já as aulas de matemática ficaram mais leves com incorporação da ferramenta Matific, que utiliza método e dinâmicas de jogos na resolução de problemas ligados à Matemática. Neste primeiro momento, estarão disponíveis 31 laboratórios e nove simuladores 3D, entre microscopia, magnitudes elétricas e fluidos.
Um dos que usa o sistema é o Grupo Saber, uma rede com 32 mil alunos, 22 marcas e 52 unidades. Segundo a diretora pedagógica, Juliana Diniz, foi necessária uma formação relâmpago que desse condições aos professores veteranos de usarem a plataforma. “Tivemos que trocar os pneus com os carros andando, mas deu certo”, diz Juliana. O plano de retomada está sendo construído há dois meses a partir de análises de modelos que deram certo na Dinamarca, Austrália e Coréia do Sul. “Sabemos que a disparidade de aprendizagem é um fenômeno inerente ao ensino por isso estamos preparando um conjunto de reavaliações para esse retorno. Nosso plano é repor presencialmente, ao menos, as aulas na educação infantil aos sábados e esticar o ano até meados de dezembro, no mínimo”, explica.
Os especialistas lembram, no entanto, que apesar de casos bem sucedidos de ensino online, nada substitui o aprendizado no ambiente físico. “Em nenhum lugar do mundo você observa um sistema que conseguiu implementar uma educação de qualidade totalmente online. Isso não significa dizer que a tecnologia não deveria ter mais espaço do que tinha antes da pandemia. Mas para que ela sirva de ponto inicial de uma revolução se faz necessária uma mudança da prática pedagógica e profissional”, analisa Olavo Nogueira Filho, diretor de políticas educacionais do Todos pela Educação.