“O senhor me diz quando e onde quer que aterrisse, e eu lhe direi onde, quando e como lançar o foguete”, declarou, certa vez, a um repórter que a entrevistava, a matemática americana Katherine Johnson. A frase saiu leve, bem-humorada, sem nenhum traço de arrogância, mas traduzia perfeitamente a realidade — Katherine já era, àquela altura, a “mente brilhante” por trás dos cálculos da Missão Apollo, que culminou com a chegada do homem à Lua, em 1969. Afrodescendente, Katherine enfrentou a segregação racial da primeira metade do século XX, para não falar da discriminação pelo simples fato de ser mulher em meio a cientistas homens e brancos. Sua trajetória de superação, aliás, ficou imortalizada no filme Estrelas Além do Tempo (2016), indicado ao Oscar em três categorias.
Katherine cresceu na Virgínia Ocidental, onde se tornou, em 1938, uma das afroamericanas pioneiras de um curso de pós em matemática. Funcionária da Nasa, ela calculou a mão a trajetória para a missão Redstone 3, que pela primeira vez enviou um americano ao espaço, em 1961. Também verificou os cálculos realizados por um arcaico IBM 7090, que traçou as órbitas do voo pioneiro de outro compatriota, John Glenn, ao redor do planeta, em 1962. Em 2015, Katherine recebeu do então presidente Barack Obama a Medalha da Liberdade, a maior condecoração civil dos EUA. Não foi a única homenagem: em 2017, a Nasa batizou com seu nome um centro de pesquisa. Ela morreu na segunda 24, aos 101 anos, de causas não reveladas, na Virgínia.
Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676