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Enem: como Inep contornou falta de questões para criar prova inédita

Corpo técnico de servidores reavaliou itens "descalibrados" do acervo de perguntas

Por Ricardo Ferraz 12 nov 2022, 14h45
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  • Um dos problemas mais graves observados durante as últimas gestões do Inep, o órgão responsável pela elaboração e aplicação do Enem, é a falta de itens no banco de questões do órgão. Espécie de arquivo secreto com diversas perguntas, o banco é a fonte onde os técnicos da Direção de Educação Básica (Daeb) selecionam as questões para elaborar a prova. Como são cada vez mais raras, a escassez levou à duvida se o exame desse ano iria reutilizar itens já aplicados em edições anteriores. Uma comissão do Inep chegou, inclusive, a recomendar que os itens fossem repetidos. Mas isso acabou não ocorrendo, o Enem desse ano será inédito.

    O feito só foi obtido graças a uma saída engenhosa e um tanto polêmica encontrada pelo corpo técnico de servidores, agora comandado por Carlos Eduardo Moreno. Funcionário de carreira, Moreno assumiu o órgão em julho deste ano, após o presidente anterior, Danilo Dupas, enfrentar pedidos de exoneração em massa, em protesto por sua gestão pouco técnica.

    Quando o atual gestor assumiu, a situação do banco era considerada “calamitosa”. O atraso na contratação de  profissionais, recrutados por meio de editais, para abastecer o acervo e a dificuldade de testar os itens fizeram restar disponíveis apenas as questões que não haviam sido testadas, ou que foram dispensadas anteriormente porque poderiam “descalibrar” a prova.

    Tradicionalmente, as perguntas são ensaiadas em um processo seletivo de iniciação científica com alunos do primeiro ano que ingressaram em uma universidade, O Prêmio Capes. O público é praticamente o mesmo do Enem, mas esse ano as inscrições para o concurso foram bem inferiores às edições anteriores, o que diminuiu o rol de questões previamente testadas.

    Nessas simulações,  os técnicos do Inep avaliam o desempenho dos participantes em cada uma das questões. Os itens são então “ranqueados” e classificados de acordo com o grau de dificuldade da matéria. Esse método é fundamental para desenhar a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que permite avaliar o desempenho dos candidatos do Enem de acordo com o conjunto da prova e não apenas pela quantidade de erros e acertos. Pela TRI, um aluno que vai mal em questões fáceis, mas responde corretamente uma difícil, por exemplo, perde pontos porque o Inep considera que a resposta pode ser fruto de um “chute”.

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    Como no banco, restavam apenas questões “descalibradas” (cujas alternativas não permitiam uma leitura acurada da TRI), os técnicos do Inep resolveram reciclá-las para adequá-las melhor ao exame. Em outras palavras: assumiram o risco de refazer os itens sem testá-los novamente. Foi a saída técnica apresentada pela equipe da Daeb e autorizada por Moreno.

    O risco é que haja um desequilíbrio da prova, mas ele é considerado menor do que o de montar o exame com questões já aplicadas. Internamente, já estão sendo tomadas medidas para que o banco seja reabastecido e novas formas de testes sejam criadas.

    Muitos servidores avaliam que o banco de itens chegou na situação de calamidade para forçar uma terceirização da prova, o que, segundo eles poderia ser mais suscetível à pressões para tornar o exame mais ideológico. Durante o governo Bolsonaro, não foram poucas as tentativas de interferência no banco de questões, principalmente à temas sensíveis para eleitores do atual presidente, como igualdade de gênero, direitos reprodutivos, racismo e ditadura militar.

     

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