Aprender sempre me fascinou, desde muito pequeno. Gostava de montar quebra-cabeças complicados e, aos 3 anos, já sabia ler e escrever. Um dos primeiros presentes que lembro de ter pedido foi uma tabuada, que meu pai relutou em dar, alegando ser complexo para minha idade. Insisti, ele cedeu e logo multiplicava os números de 1 a 10. Depois, surgiu o interesse por países e capitais. Em três dias, sabia as principais cidades de 170 nações. Por incentivo de meus pais, cheguei a participar de programas de TV que testavam conhecimento. Adorei a experiência de ser desafiado. Meus professores começaram a perceber que havia algo diferente em mim, e acabei pulando o primeiro, o terceiro e oitavo anos do ensino fundamental. Passei então a conviver com colegas bem mais velhos do que eu, o que exigiu adaptação, mas me saí bem. Fiz amigos e nunca sofri preconceito por ser o mais novo da turma. Meus colegas viam valor em mim. Era eu que os ajudava quando tinham dificuldade.
No dia 14 de dezembro de 2022, estava com meus pais quando recebi uma ligação inacreditável, talvez a mais emocionante da minha vida. Do outro lado da linha estava ninguém menos do que o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, o prestigiado ITA. Normalmente, são os candidatos ao vestibular que entram em contato com a instituição para saber o resultado. No meu caso, ele se deu ao trabalho de telefonar porque ficou impressionado: fui o mais jovem vestibulando a ser aprovado em toda a história do exame. A média para passar lá é de 20, 21 anos. Fiquei realmente feliz que todo meu esforço havia trazido resultado. Não foi a primeira vez que fui aprovado em uma faculdade — antes, passei quatro vezes para medicina. Desde os 12 anos me inscrevia e resolvia a prova a sério, só para ver como me sairia. Desta vez, porém, já estou formado na escola e planejo me matricular em algum curso. Acho que estou mais maduro para encarar a universidade.
Estudar sempre foi um grande prazer, um divertimento, e recebi incentivo permanente dos meus pais, o que foi vital. Quando aprendo algo novo, sinto que me torno uma pessoa mais completa. Na minha visão, conhecimento não se resume apenas ao que assimilamos na escola. É preciso ir atrás de mais, muito mais, sem desrespeitar os próprios limites, e sim mantendo uma vida além dos livros. Muita gente me critica, dizendo que eu tenho uma rotina robótica, com tudo programado, mas não é bem assim. Cultivo minhas amizades, adoro jogar futebol e ver filmes. A diferença, talvez, é que organizo meus dias com foco naquilo que quero alcançar. Em 2022, cursei o terceiro ano do ensino médio e estava me preparando para o ITA e outros vestibulares. Acordava às 7 e ficava até o almoço revisando matérias e fazendo exercícios. Depois, ia direto para o colégio e só saía umas 10 da noite. Foi um momento e sabia que era necessário. No final, deu certo.
Agora, estou esperando o resultado do Enem para definir como ficará minha vida em 2023. Minha ideia, na verdade, é cursar direito em uma universidade federal para ser juiz. A carreira parece boa, desafiante. Em paralelo, cogito me matricular no curso de matemática, mais por hobby mesmo. Amo também ensinar. Tenho um canal no YouTube para auxiliar alunos na área de exatas e hoje dou aulas que não pretendo largar. Ajudar as pessoas me faz bem. Enquanto o ano letivo não começa, estou de férias. Combino meus programas com amigos, mas não deixo de reservar uma parte do dia para me aprofundar nos assuntos que me interessam. Se fico muito tempo longe dos livros, parece que está faltando alguma coisa. Aprender, para mim, é para a vida toda.
Caio Temponi em depoimento dado a Duda Monteiro de Barros
Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824