Até uma semana atrás, a Escola Municipal Maria Tomázia Coelho vivia uma rotina pacata em Praia do Santinho, em Florianópolis (SC). A vida na unidade mudou no início desta semana, quando as queixas de uma aluna do 7º ano, Isadora Faber, de 13 anos, começaram a se espalhar pelo Facebook a partir da página “Diário de Classe“. Ali, Isadora narra desde julho os problemas típicos de uma escola pública brasileira, como maçanetas quebradas e ausência de professores. A Secretaria de Educação convocou uma reunião de emergência e elegeu uma culpada pela situação: a diretora Liziane Diaz, de 29 anos, que admitiu “fragilidade na administração”. Ela mantém a posição na entrevista a seguir, concedida por telefone, mas defende que os defeitos administrativos podem ser explicados pelas virtudes pedagógicas da escola – que podem ser parcialmente comprovadas. No último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a unidade, que possui 632 alunos, obteve nota 6,1 nos anos iniciais do ensino fundamental, superando as médias de Santa Catarina (5,6) e da cidade de Florianópolis (5,8). Nos anos finais do ciclo, o desempenho é inferior: 4,8 – ante 4,9 da média estadual e 4,5 da capital. “Somos muito bem vistos pela rede municipal de ensino, o que faz com que sejamos uma unidade muito procucada por estudantes e seus pais”, diz Liziane. Apesar de admitir os tropeços administrativos, ela afirma que ainda se pergunta “por que o caso provocou uma repercussão tão grande”. “Acho que podíamos ter discutido mais os problemas em sala de aula e nos conselhos de classe”, diz. Confira a seguir a entrevista da diretora.
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O que Isadora publica corresponde à realidade da escola?
Existem falhas, é claro, e eu assumo a responsabilidade por isso. Estou trabalhando para saná-las. Tenho um grupo muito qualificado e unido de professores e funcionários. O que Isadora publica é um recorte da realidade: eu gostaria que as pessoas conhecessem a escola como um todo. Somos muito bem vistos pela rede municipal de ensino, o que faz com que sejamos uma unidade muito procurada por estudantes e seus pais: temos até uma fila de espera para novos alunos.
Isadora diz que sofreu represálias da escola. Alguém chegou a pedir a ela ou à mãe dela para que a página fosse retirada do ar?
Não, em momento algum. O que fizemos foi pedir que ela tomasse cuidado ao publicar fotos de professores ou de outros alunos porque todos têm o direito de ter a própria imagem preservada.
Como a senhora e a comunidade escolar se sentem diante da repercussão do “Diário de Classe”?
Estamos, é claro, surpresos. Às vezes, ainda me pergunto por que o caso provocou uma repercussão tão grande. As questões que ela apontou, como problemas estruturais e a dificuldade com um professor de matemática, já foram todas encaminhadas.
Como está a relação dos professores e dos demais estudantes com Isadora?
Queremos que a Isadora se sinta bem na escola, mas os alunos estão divididos. Ainda não consegui fazer uma reunião com todos para falarmos sobre este assunto.
A senhora se arrepende de algo? Acha que poderia ter agido de outra maneira?
Não sei. Às vezes, me pergunto: ‘Por que isso precisou chegar à internet?’ Afinal, tentamos fazer um trabalho apurado com os alunos e estamos sempre abertos ao diálogo e às críticas. Acho que podíamos ter discutido mais os problemas em sala de aula e nos conselhos de classe. Mesmo alguns alunos se questionam: ‘Será que isso precisava ir parar no Facebook?’
Mas a senhora admite que houve problemas no gerenciamento da escola?
Houve dificuldade na gestão do grupo que administra as verbas, e acabamos não utilizando o dinheiro integralmente. Mas, se algo foi deixado de lado, é porque nos dedicamos mais às práticas pedagógicas. Mesmo com um vidro quebrado ou uma fechadura faltando, tivemos um bom nível de rendimento.
A senhora mencionou que a escola mantém uma página no Facebook. Como o espaço é usado pela instituição?
Usamos o Facebook como um mural, onde divulgamos as atividades que fogem à rotina, além do calendário de provas. Rede social ainda não é um assunto sobre o qual tenhamos total domínio. Mas acho que é o momento de refletir sobre como investir nisso.
O que vai mudar na escola daqui para frente?
Já estamos dando um passo para além da crítica. Ela foi feita: agora, é preciso que cada um assuma sua responsabilidade na definição de um novo modelo de trabalho. Queremos que o caso saia do Facebook e venha para dentro da escola para que os alunos sejam atuantes também aqui.
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