O elevador do prédio em uma das esquinas da Avenida Paulista com a Rua da Consolação chega ao pavimento que coincide com o nome da empresa. Mais de 1.000 pessoas trabalham na startup Quinto Andar, espalhadas também por outros pisos desse e de mais três edifícios (apenas um fora da capital paulista, em Campinas).
A multiplicação dos endereços é a tradução em carne, osso e metros quadrados do crescimento da plataforma digital de aluguel de imóveis, que quintuplicou o número de contratos entre 2018 e 2019 (atualmente, são cerca de 4500 negócios fechados a cada mês) em 25 cidades, de Porto Alegre a Goiânia. Com isso, não para de abrir vagas de emprego (veja oportunidades aqui).
Criado em 2013, o Quinto Andar conecta locadores e locatários sem necessidade de fiador, caução ou seguro fiança (a empresa fica com o primeiro aluguel e uma taxa mensal dos seguintes) e se diferenciou por mostrar fotos profissionais dos imóveis, um salto e tanto sobre os sites cheios de imagens escuras e mal enquadradas (às vezes, meio nojentas) de quartos bagunçados e pias com louça suja.
O modelo bem sucedido transformou a empresa no mais novo unicórnio brasileiro. O termo designa startups que se tornam lendas ao conquistar o valor de mercado de ao menos 1 bilhão de dólares. Outras oito empresas nacionais estão na lista.
Trabalhar em uma empresa que cresce tão rápido não é para qualquer profissional. Os fundadores André Penha, de 39 anos, e Gabriel Braga, de 37, ambos mineiros, receberam a reportagem para falar um pouco sobre a rotina, a cultura da empresa e os predicados de quem costuma se dar bem por lá.
Ambiente aberto
Ninguém (nem os chefões) tem sala própria. Os funcionários trabalham em mesões compartilhados – e podem, vez ou outra, se deparar com os fundadores sentados no mesmo espaço. “Eu não tenho mesa, então chego, acho um lugar vago e coloco o notebook. Eventualmente eu assusto quem está do lado”, brinca André Penha.
Sem manual de instruções
As equipes são divididas em squads (pequenos grupos multidisciplinares), que se concentram nas tarefas e problemas da vez. Há um mínimo de hierarquia – a chamada cultura “horizontal”, sem diversas camadas de chefia, o que exige que os profissionais tenham gosto pela autonomia. “Aqui não entregamos o manual de instruções – e nem seria possível, pois tudo está mudando muito rápido conforme o Quinto Andar cresce. Há orientações gerais, mas a pessoa decide se vai puxar a alavanca A ou a alavanca B”, diz a dupla, em frases intercaladas. Isso não quer dizer, claro, fazer qualquer coisa – haverá cobrança pelos resultados. Poderes grandes – responsabilidade idem.
É um ambiente, claro, frustrante para determinados perfis profissionais.
Foco no problema
Na dinâmica do Quinto Andar, há um desestímulo a soluções “infalíveis”.
“Olhamos para um determinado problema e pensamos: vamos resolver. Isso dita uma série de comportamentos dentro da companhia. Temos desapego pela solução – se funcionar, beleza. Se não, jogamos ela fora. E, mesmo quando funciona, pode ser para um determinado tempo, numa determinada escala. Quando a empresa fica dez vezes maior, aquela solução provavelmente para de funcionar.”
![Quinto-Andar-2](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/quinto-andar-2.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Ética
“Temos tolerância zero com coisas básicas de ética, respeito com as pessoas”, avisa André. “Não aceitamos uma cultura mais tóxica.” Tradução: “Discriminação, machismo, homofobia… Pode ser a pessoa mais tecnicamente competente, o cargo mais alto… Se fez alguma coisa dessas, sabe que não vai durar 5 minutos. Vai ser resolvido na hora.”
No mesmo barco
“Quando começamos, éramos seis pessoas num espaço do tamanho de uma sala de dentista – todos ouviam o que estava acontecendo”, relembra Gabriel. Com mais de 1.000 profissionais, há a preocupação de comunicar as novidades de forma explícita, o tempo todo. “Se não, cada um rema para um lado e o barco fica rodando lá no meio. Queremos que o barco vá para o mesmo sentido.”
Sem muito “oba-oba”
Os fundadores reconhecem que não se trata de um ambiente de muita celebração. “As pessoas aqui precisam ter um nível basal de autoconfiança e não ficar esperando alguém falar o tempo todo se ela está indo bem”, diz Gabriel.
Vale para o autoelogio da corporação.
O título de unicórnio não mereceu nenhuma festa na empresa – foi anunciado de maneira breve nos escritórios, e o dia seguiu normalmente, como se fosse mais um.