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‘Tivemos que mudar a agenda’, diz Paulo Guedes

Ministro da Economia afirma que o Brasil também precisa enfrentar a 'segunda onda' da crise do coronavírus e que o caminho está nas reformas estruturantes

Por Thiago Bronzatto
Atualizado em 4 abr 2020, 11h59 - Publicado em 4 abr 2020, 08h25
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  • Instalado na Granja do Torto, residência oficial em Brasília onde moraram presidentes da República, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem feito longas caminhadas pelas manhãs enquanto planeja quais serão os próximos passos para retomar o crescimento do país. Com o avanço do coronavírus (Covid-19), Guedes teve de deixar de lado a sua agenda liberal e passou a abrir os cofres públicos para socorrer empresários, trabalhadores, estados e municípios. Nos últimos dias, ele anunciou medidas que somam 750 bilhões de reais, quase o mesmo valor poupado com a reforma da Previdência. Mesmo mudando a sua rota, o ministro defende que o Congresso, em isolamento social, aprove reformas estruturais para se antecipar a uma segunda onda da crise – que, para ele, será “mais desagradável”. “A nossa capacidade de retomar o crescimento vai depender da velocidade que vamos retomar as reformas estruturantes”, afirma Guedes.

    A pandemia do coronavírus mudou a agenda econômica do Brasil. Agora, qual será o plano para proteger o país desta crise?
    O Brasil estava em uma agenda de reformas estruturantes, que iriam recuperar o nosso crescimento sustentável. Estávamos reduzindo os investimentos estatais, abrindo a economia, reformando a Previdência, diminuindo os juros e o endividamento. O grande salto ocorreria com o pacto federativo, que iria transformar o país. Seria mais Brasil e menos Brasília. O objetivo era jogar os recursos para os estados e municípios. Era uma direção tão correta que, se isso tivesse sido feito antes, o coronavírus iria encontrar os estados e municípios mais fortes, com mais recursos financeiros nas mãos. Estávamos fazendo reformas estruturantes, jogando dinheiro de Brasília para a ponta, justamente para a saúde, o saneamento e a segurança pública, até que veio o coronavírus. Tivemos que mudar a agenda. Ao invés de reformas estruturantes, passamos a adotar medidas emergenciais. As reformas estruturantes são permanentes, sendo as que vão garantir o futuro do Brasil, com recursos para a saúde, o saneamento, a educação e a segurança pública na base, onde o povo vive. As medidas emergenciais são transitórias. É só uma golfada. Elas criam uma camada de proteção social aos mais frágeis. Agora, o nosso lema é: nenhum brasileiro será deixado para trás.

    O senhor foi criticado por ter demorado para liberar o auxílio de 600 reais para os trabalhadores informais. O que houve, afinal?
    Liberamos 98 bilhões de reais de ajuda emergencial aos trabalhadores informais. Esse valor corresponde a todas as despesas discricionárias para os ministérios neste ano. Fizemos isso em poucos dias, com uma só medida. Liberamos mais 51 bilhões de reais para os empregados que tiverem os seus salários reduzidos nos próximos meses. Queria ver quem faria isso em três semanas e meia. Quem sairia de uma agenda grande de reformas estruturantes para uma de medidas emergenciais com a mesma velocidade. Em um primeiro momento, eu só podia fazer medidas infraconstitucionais. Depois, consegui o direito de gastar mais, graças à decisão do ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal). Mas, depois, eu tinha outra trava: a regra de ouro (mecanismo que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar despesas correntes). Se eu gastasse mais, iria quebrar essa regra. Havia uma divisão de opiniões dentro do ministério. Mas acabamos decidindo não esperar mais para resolver essa questão. Batemos o martelo e seguimos em frente. Os recursos devem ser liberados nos próximos dias. O Ministério da Cidadania, com o nosso apoio, está cuidando disso.

    O senhor tem dito que a pandemia do coronavírus tem duas ondas. A primeira irá atingir a saúde dos brasileiros. Já a segunda terá impacto na economia. Como será possível passar por esses dois momentos?
    Daqui a três, quatro ou cinco meses, essa primeira onda vai ter passado. A partir daí, estaremos presos numa segunda onda, que é a do desaquecimento econômico. A primeira onda, da saúde, já nos atingiu e começou a afetar a economia. Temos que pensar também em como sair da segunda onda que virá. Como? Retomando as reformas estruturantes. Quanto mais cedo, melhor. Se aprovarmos o saneamento, destravaremos a retomada dos investimentos. O projeto do saneamento está no Congresso há um tempo. Se aprovarmos o setor elétrico, as privatizações e as concessões, vamos ajudar a atrair mais investimentos. A nossa capacidade de retomar o crescimento vai depender da velocidade que vamos retomar as reformas estruturantes.

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    Mas o senhor acredita que, neste momento de pandemia, há espaço para aprovar essas reformas?
    Se ficar todo mundo trancado em casa, com medo, a segunda onda vai ser mais desagradável. Mas se pensarmos como vai sair logo depois da primeira onda, podemos destravar investimentos importantes. Há projetos que estão parados há um ano no Congresso. Algumas pessoas cobram pressa de uma medida que ficou parada durante dez dias, enquanto saneamento está parado há um tempo. Como a pessoa vai lavar a mão se não tem água nem esgoto? Ou seja, o nosso desempenho nesta crise do coronavírus seria outro se tivéssemos destravado investimentos em saneamento. A mesma lógica vale para o Plano Mansueto, que reforçaria financeiramente os estados e municípios que hoje estão passando por apuros. A nossa parte estamos fazendo. Todas as principais medidas contra o coronavírus têm passado pela Economia. Por exemplo: eu não só reduzi a zero a alíquota de importação de mais cem produtos hospitalares como proibi a exportação de máscaras e ventiladores. O Mandetta (ministro da Saúde) disse que isso salvou o país. O nosso lema agora é: nenhum brasileiro será deixado para trás.

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