O senhor criou uma empresa bem-sucedida, foi eleito um dos jovens mais inovadores pelo MIT e ficou rico muito cedo. Como isso o afetou? É um desafio. Trabalho desde os 14 anos e o fato de ter conquistado independência financeira muito novo trouxe segurança. Mas são sou super-homem. Tudo cresceu: grana, mídia, prêmios. Isso mexe com a cabeça de um jovem. O ego pode destruir qualquer pessoa e vivo uma briga constante com isso, tanto é que tenho acompanhamento profissional.
Como é o seu dia típico? Faço parte dos 3% da população global que se recupera com menos de cinco horas de sono. Durmo tarde e acordo sem despertador, entre 5 e 7 horas da manhã. Isso não me faz mal. Tenho o hábito de ler dez páginas de um livro pela manhã todo dia, depois passo os olhos pelos jornais e redes sociais. Vou treinar, engato no trabalho e não sei dizer a que horas paro.
As redes sociais são fundamentais para um homem de negócios? A velha geração tinha aquela ideia de que era melhor ser anônimo. Isso funcionou bem em uma época. Hoje em dia, os jovens querem trabalhar para caras conhecidos, que falam a linguagem deles, que montam uma empresa sexy. E esses caras estão no Instagram ou no Twitter.
O senhor não tem formação superior. Sofreu preconceito? Um pouco. Nos EUA é até bonito ser um dropout, mas no Brasil nem tanto. Entrei na faculdade para fazer comunicação social, queria ser publicitário, mas não me identifiquei. Fui morar na África do Sul para fazer antropologia, mas também saí do curso. Voltei para o Brasil e decidi que iria construir minha história.
O que o senhor fez? Percebi que tinha de estudar programação, economia, matemática financeira e entender de gestão de projetos. Em 2006, comecei a estudar sozinho. Aprimorei meu inglês e meio que me formei por conta própria. Sempre fui muito estudioso e decidi fazer um MBA em Harvard.
Acredita em meritocracia? Eu sou fruto dela. Minha vó era empregada doméstica e cuidou de mim depois que meus pais se separaram. Não sou branco. Não sei se sou negro, mas branco não sou. Quando vou aos EUA, dizem que sou negro. Sofri preconceitos, mas dei um jeito. Não podemos incentivar o coitadismo, temos de incentivar o protagonismo. É algo que a iniciativa privada deveria fazer, não dá para esperar do Estado. Burocrata não está nem aí para nós.
Publicado em VEJA de 26 de maio de 2021, edição nº 2739