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Subsídio de salários causa atrito entre Guedes e presidente do BNDES

Ministro defende o ingresso de microempresas no programa, enquanto Gustavo Montezano vê alto risco de calote

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h19 - Publicado em 30 mar 2020, 13h03
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  • Um embate entre dois comandantes da equipe econômica do governo é o mais novo episódio da evidente desarticulação no enfrentamento à crise causada pela pandemia do coronavírus (Covid-19). O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento, o BNDES, Gustavo Montezano, entrou em rota de colisão com o ministro da Economia, Paulo Guedes. A instituição articulou, ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a medida para financiar salários de pequenas e médias empresas, com recursos vindos da própria instituição e de bancos privados. Contudo, a exclusão de microempresas gerou críticas ao banco público.

    Durante uma conferência com prefeitos no último domingo, Guedes reclamou que o projeto de auxílio de 40 bilhões de reais em dois meses para o pagamento de salários, anunciado na última semana para manter o nível de emprego, não contemplava este contingente. O ministro defendeu o ingresso de microempreendedores no programa e disse que “qualquer brasileiro que tem um pequeno negócio tem que ser ajudado”. Já Montezano, indagado pelo portal Uol do motivo de os Microempreendedores Individuais (MEI) não terem sido incluídos no projeto, jogou para o Ministério da Economia, comandado por Guedes, a responsabilidade de estruturar os projetos e a eficácia dos programas. “O BNDES atua como operador da linha. A linha é estruturada pelo BC e suportada pelos recursos do Tesouro Nacional. Isso é uma estratégia que cabe ao Ministério da Economia”, declarou ele ao site.

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    Nos bastidores, porém, as diretrizes de enfrentamento à crise causada pelo novo coronavírus e os mecanismos para manter empregos deflagrou uma crise interna no BNDES — que custou cabeças. A leitura de alguns altos executivos da instituição é de que o banco não deveria financiar salários de microempresas, dada a incapacidade financeira das pessoas nestas condições. Segundo eles, em conversas reservadas, o banco não teria condições de arcar com os vencimentos deste tipo de empresa sem auxílio dos bancos privados, que também temem calote e não concederiam crédito.

    Na semana passada, o programa de crédito do BNDES foi duramente criticado internamente. Segundo um alto executivo, a instituição deveria ater-se a projetos de infraestrutura e deixar os empréstimos a curto prazo para as pequenas e médias empresas para serem executados pela Caixa e pelo Banco do Brasil — ambos têm recursos e expertise para esse tipo de empréstimo concedido aos menores empreendedores.

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    Em meio às discussões para as saídas para a crise Montezano ceifou do cargo o presidente do Conselho do BNDES, o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Em reuniões internas, Gomes defendia o enxugamento da instituição por meio de um Programa de Demissão Voluntária, o PDV, que viabilizaria mais benefícios aos funcionários que pedirem desligamento. O plano de Gomes envolvia reduzir o quadro de diretores e funcionários do BNDES para enfrentar a crise, o que enfureceu Montezano.

    Demitido da instituição na semana passada, ele entendia que o BNDES deveria engendrar mecanismos para abastecer os cofres do Tesouro durante a crise causada pelo novo coronavírus, pagando dívidas que mantém com a União de mais de 100 bilhões de reais. Graças à falta de unidade entre o Ministério da Economia e as instituições financeiras e à falta de planejamento para ultrapassar este momento duro, o Brasil perde um tempo precioso no enfrentamento da crise.

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