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Sindicatos e entidades perdem poder para líderes grevistas do WhatsApp

Para dirigente sindical, uso aplicativo criou lideranças

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 29 Maio 2018, 12h10 - Publicado em 29 Maio 2018, 12h01
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  • Em mais de 20 anos de liderança, o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo Silva, o China, diz que nunca viveu situação semelhante e não faz ideia de como o governo vai resolver a greve. “Virou uma situação sem controle”, diz ele. Nos 15 pontos de paralisação sob a bandeira da entidade, nenhum encerrou os protestos, apesar das ponderações de China sob o acordo anunciado pelo presidente Michel Temer (MDB).

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    Para ele, uma das marcas dessa greve é a ampla utilização do WhatsApp, que criou um “monte de líderes” no movimento. Ao contrário do que ocorria em paralisações passadas, desta vez a voz do sindicato e das entidades de classe tem sido questionada e abafada pela disseminação das opiniões no aplicativo. Nos últimos dias, a cada anúncio do governo, milhares de caminhoneiros tinham respostas imediatas em mensagens disparadas nos grupos da categoria.

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    O sociólogo Massimo Di Felice, professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor de vários livros sobre comunicação digital, afirma que esse é o resultado de uma grande passagem para o que ele chama de democracia direta. Por meio dos grupos de WhatsApp, as pessoas passam a organizar as informações sem a necessidade de um representante.

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    “Ninguém representa ninguém. Todos podem emitir suas opiniões e organizar as informações”, diz ele, que estudou as manifestações da Primavera Árabe, em 2010, no Oriente Médio, e os protestos no Brasil, em 2013, organizados pelas redes sociais. Na avaliação do sociólogo, o problema é que a política tradicional ainda não descobriu uma forma de lidar com esse novo cenário.

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    As últimas ações do governo mostram uma dificuldade enorme para controlar a situação, já que os manifestantes não se sentem representados pelas lideranças. Na segunda-feira, nos grupos de WhatsApp, os caminhoneiros chamavam os representantes que aceitaram o acordo de traidores. “Se renderam e se venderam”, afirmava um participante sobre sindicalistas, em áudio. Na mensagem, o manifestante incitava os demais para se juntarem e “darem um pau” em um sindicalista.

    China, da Unicam, afirma que a situação foi agravada pelo descaso dos governos em relação aos motoristas de caminhões. “Nos últimos anos, passo, pelo menos, dois dias em Brasília para tentar criar um marco regulatório para o setor e nada foi decidido. Agora o governo tem um abacaxi no colo para resolver.” Junta-se a isso o fato de os caminhoneiros sentirem que têm o poder nas mãos. Isso está claro nos grupos de WhatsApp.

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    A cada concessão que o governo faz, uma nova reivindicação surge nas redes. Na segunda, a justificativa dos participantes era de que a greve ia continuar porque as medidas do governo atingiam apenas o diesel, e não a gasolina – o que não estava contemplado nos pedidos iniciais. “Não podemos deixar o povo na mão. Se reduzir o diesel, o governo vai pesar no preço da gasolina e punir a população que nos ajudou tanto nas estradas.”

    Com a queda do apoio da sociedade à greve, na segunda a estratégia nos grupos era tentar mostrar que tudo estava sendo feito por um Brasil melhor, para beneficiar toda a população. E isso só aconteceria com uma intervenção militar. Para isso, eles apelam para que o povo faça sacrifícios. “Não custa ficar quatro, cinco dias sem carro”, dizia um deles, num grupo de quase 300 pessoas. Ao mesmo tempo, eles elevavam o tom em relação àqueles que tentavam retomar o transporte de mercadorias. “Nada que uma pedra não resolva; vamos apedrejar os caminhões.”

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