O mercado de trabalho brasileiro movimentou 188,1 bilhões de reais em salários no terceiro trimestre do ano. O resultado representa quase 7 bilhões de reais a mais em circulação na economia no período de um ano, impulsionando a expectativa de venda para o próximo Natal. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados na terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Depois de atingir o auge de 191,5 bilhões de reais no quarto trimestre de 2014, a massa de salários começou uma derrocada até atingir 181,1 bilhões de reais no terceiro trimestre de 2016. De lá para cá, cresceu 3,9% – o que representa uma recuperação de 7 bilhões de reais.
“Nós sabemos que a remuneração do trabalho é o combustível do consumo tanto de bens quanto de serviços. A tendência é que a gente revise para cima as projeções das vendas para o Natal deste ano”, disse Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A CNC estima que o varejo movimente 34,3 bilhões de reais em vendas no Natal de 2017, um crescimento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado, após dois anos seguidos de perdas. “O mercado de trabalho sempre dá o lastro para o consumo. Fatores temporários, como redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) ou liberação de saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) dão um empurrão, mas não sustentam”, completou Bentes.
Projeção
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, concorda que o desempenho da massa salarial dá uma perspectiva melhor para as vendas de Natal. Além disso, com o aumento da população ocupada, muitas pessoas deixam de temer o desemprego, o que pode elevar o consumo. “Os sinais do mercado de trabalho são muito positivos, e são melhores do que o imaginado”, disse Vale.
Em apenas um trimestre, a massa de salários em circulação na economia cresceu 2,6 bilhões de reais. “A massa de salários cresce porque aumenta o total de pessoas ocupadas e o rendimento delas também”, declarou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Segundo Azeredo, o aumento na renda propicia o início de um círculo virtuoso, em que o crescimento da renda disponível gera mais demanda por bens e serviços e, consequentemente, impulsiona a produção e a geração de novos empregos.
Em um ano, houve criação de 1,462 milhão de postos de trabalho em todo o país. A renda média também ficou maior, com alta de 2,4%, para 2.115 reais. Em relação ao trimestre anterior, houve elevação de 0,3% no rendimento médio. Ambas as variações, contudo, foram consideradas “estáveis” pelo IBGE.
Poder de compra
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) lembra que o arrefecimento da inflação tem sido fundamental para a evolução da massa de renda no país, uma vez que deixa de corroer o poder de compra dos trabalhadores.
“O crescimento da massa abre possibilidades de ter um maior dinamismo do mercado doméstico no fim do ano. Isso inclusive se expressa nos indicadores de confiança dos empresários. Mas ninguém está esperando nenhuma reviravolta. Tudo com muita calma, mas na direção favorável”, ponderou Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.