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Queima de caixa da Americanas assusta mercado e ação derrete quase 60%

Americanas consome R$ 2 bilhões do caixa operacional entre janeiro e junho e acende alerta dos analistas

Por Márcio Juliboni Atualizado em 15 ago 2024, 17h31 - Publicado em 15 ago 2024, 12h27
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  • As ações da Americanas (AMER3) implodiram na manhã desta quinta-feira, 15, em resposta à divulgação dos balanços consolidados de 2023 e do segundo trimestre de 2024, adiados diversas vezes para que a empresa pudesse apurar corretamente as fraudes contábeis descobertas no início do ano passado. Os papéis encontram-se em leilão, procedimento adotado pela B3, entre outros motivos, quando uma ação abre com mais de 10% de queda em relação ao fechamento do dia anterior.

    No caso da Americanas, o tombo é muito maior. Por volta das 11h35, a ação derretia 66,7% e era cotada a 11 centavos. O papel fechou em queda de 57,58%, em 14 centavos. A bolsa de valores subiu pelo 8º dia consecutivo, chegando a 134.153 pontos, próxima da máxima histórica.

    A queda da companhia é aprofundada, ainda, pelo fim do período de lock-up inicial para os credores que aceitaram receber ações como pagamento pelas dívidas relacionadas à recuperação judicial da Americanas. Com isso, bancos, debenturistas e bondholders, entre outros, estão livres, a partir de hoje, para vender as ações e reaver parte do dinheiro que tinham a receber. Esse embargo envolvia cerca de 73% dos papéis emitidos na renegociação, o equivalente a 7 bilhões de ações. Atualmente, o capital social da varejista é representado por 19,7 bilhões de ações ordinárias.

    Em nota à imprensa, a Americanas afirma que o fim do lock-up e a consequente oferta das ações pelos credores, hoje, “era de conhecimento do mercado e não guarda relação com a apresentação de resultados de 2023 e 6M24 realizada nesta manhã.”

    Embora o mercado soubesse que as fraudes cometidas pela antiga gestão, avaliadas em 25 bilhões de reais, haviam jogado a companhia numa situação difícil, que culminou no pedido de recuperação judicial em janeiro do ano passado, com dívidas de mais de 40 bilhões de reais, o que surpreendeu os analistas e investidores foram outras linhas do balanço – em especial, a queima de caixa no primeiro semestre.

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    Como se sabe, empresas conseguem sobreviver por anos com prejuízo contábil, mas não vivem um dia sequer sem caixa, que representa o dinheiro efetivamente passando pela sua conta corrente para pagar compromissos como salários, fornecedores e despesas.

    “A Americanas reportou, nos seis primeiros meses do ano, uma queima de caixa operacional de 2 bilhões de reais”, explica Fernando Ferrer, chefe da mesa de renda variável e fundos imobiliários da Lifetime Investimentos. Na prática, isso significa que a companhia não conseguiu fazer dinheiro com sua atividade primária – a venda de produtos no varejo.

    O quadro é ainda mais preocupante, segundo Ferrer, porque, em tese, a companhia já deveria ter passado pelo pior momento da reestruturação. A própria administração da Americanas reforça essa ideia na mensagem que acompanha as demonstrações financeiras divulgadas hoje.

    “A fase crítica foi superada, com a adoção de ajustes de curto e médio prazos, mas ainda há muito trabalho a fazer, como a adequação de diferentes sortimentos às demandas dos clientes”, disse a empresa na mensagem ao mercado. Além de renegociar dívidas e pagar compromissos previstos na recuperação judicial, a varejista também recebeu um aporte de capital de 24,5 bilhões de reais, dos quais, 12,3 bilhões foram bancados pelos acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

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    “Mesmo com tudo isso, a Americanas continua numa condição muito sensível”, diz Ferrer. A dificuldade é reforçada por outros números operacionais, como o tombo do GMV, que representa o volume de vendas em suas lojas físicas e no e-commerce. A cifra recuou de 42 bilhões de reais, no acumulado de 2022, para 22 bilhões, no total de 2023, e para 10 bilhões no primeiro semestre de 2024. Mesmo a comparação com o mesmo intervalo de 2023 é desfavorável, já que, entre janeiro e junho do ano passado, o GMV somou 11 bilhões de reais. “Isso mostra o tamanho da mudança de escala da companhia”, observa Ferrer.

    A Americanas fechou o primeiro semestre com prejuízo líquido consolidado de 1,4 bilhão de reais. A cifra é 56% menor que o prejuízo de 3,2 bilhões reportados no mesmo período do ano passado. No acumulado de 2023, as perdas somaram 2,3 bilhões. Já em 2022, cujos números foram reapresentados, o prejuízo anual ficou em 13,2 bilhões.

    O Ebitda ajustado, importante referência de geração de caixa, ficou negativo em 2,4 bilhões de reais no total de 2023. No primeiro semestre, ficou positivo em 265 milhões de reais, contra um déficit de 1,1 bilhão na primeira metade de 2023.

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